Há um claro sinal de abertura no regime cubano. Quando Fidel entregou as rédeas do poder ao irmão, general Raúl Castro, foi cogitado que tal pudesse acontecer, mas a maior parte dos analistas ficou na posição do ver para crer. E os exilados e descendentes de exilados cubanos, que vivem nos Estados Unidos, nem deram muita importância ao assunto. Em parte porque frustrados com tantos anos de esperanças perdidas, mas porque já integrados na vida norte-americana, onde já uma terceira geração de cubanos ocupa posições de destaque no mercado, na administração e inclusive na política. Estes nem mais pensam em voltar a Cuba, até porque grande parte nasceu em solo norte-americano.
A abertura ora verificada tem como motivo declarado a disponibilidade de energia elétrica, mas na realidade significa a entrega à população da oportunidade de consumo de bens duráveis que até aqui eram inimagináveis na ilha. Foi liberada a venda de televisores, DVDs, bicicletas elétricas, panelas elétricas e vários outros apetrechos que, não existindo em Cuba, a colocavam mais próxima da idade da pedra que da modernidade.
É significativa a liberação de equipamentos de comunicação, dentre eles os computadores. Em Cuba o uso da internet é proibido. Isso isola os cubanos do resto do mundo. Nem transmitem suas mensagens nem as recebem, sendo mantidos ignorantes sobre o que se passa fora do feudo de Fidel Castro, agora repartido com seu irmão, Raúl Castro.
É de se imaginar que à liberação de computadores possa se seguir a permissão para o uso da internet. Até agora, a pequena população cubana foi mantida sob intensa lavagem cerebral. Na maior livraria de Havana, por exemplo, há milhares de livros à venda. Todos eles sobre o comunismo e editados com o fim de pregar a ideologia marxista. Um jornalista paranaense, em estada na ilha, só encontrou um livro que não era sobre marxismo. Ainda assim, tratava da criação de abelhas.
Outra ilação que se pode tirar da liberalização agora ditada por Raúl Castro é que dela resultarão relações comerciais, inclusive, senão principalmente, com os Estados Unidos. Os bens liberados não são fabricados em Cuba e terão, pelo menos em sua maioria, de ser importados. E a América do Norte está ali, há poucos quilômetros de distância, como um potente mercado exportador.
É preciso, por óbvio, atentar para o desenrolar dos acontecimentos pós-liberação, imaginando que eles não são uma medida cosmética e sim um passo relevante no sentido da abertura. O passo mais importante, entretanto, deverá ser a admissão em maior quantidade e em vários campos do capital estrangeiro, hoje bem-vindo no turismo. Na ilha existem vários hotéis e ?resorts? que pertencem a grupos estrangeiros, em maior parte espanhóis.
A etapa definitiva seria a abertura das fronteiras do pequeno país tanto para que os cubanos possam viajar para o exterior, como os estrangeiros possam visitar Cuba sem maiores embaraços.
Há um modelo entre os países comunistas que pode estar servindo de exemplo para os dirigentes cubanos, os Castro. Referimo-nos ao chinês, onde se pratica uma política marxista, mas uma economia de mercado, capitalista. E com sucesso, pois hoje a China espanta o mundo com seu vertiginoso ritmo de crescimento. Cuba, pequena, pouco populosa e com vocação mais para o turismo, não pode aspirar grandes vôos. Mas parece certo que seus habitantes receberiam como uma bênção vôos para a liberdade.