Abalo do mercado financeiro pode atingir consumidor

O mau humor que sacudiu o mercado financeiro na semana passada tem razões que até mesmo os analistas tropeçam para explicar. Mas, independentemente dos motivos que elevaram o dólar, derrubaram a bolsa e agitaram os riscos dos países emergentes, a certeza é que a continuidade de tanto nervosismo, uma hora ou outra, vai bater no bolso do consumidor.

Um dos efeitos colaterais da volatilidade recai sobre os preços. Em ambientes incertos, a tendência é os investidores saírem de mercados emergentes, considerados de maior risco, e correrem para a segurança de países desenvolvidos. A venda de papéis e títulos dos emergentes pressiona as moedas locais, já que reduzem a oferta de dólar, e impacta os índices de inflação.

Na opinião do professor da Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas, Rogério Mori, se houver uma saída maciça de recursos estrangeiros nem mesmo a balança comercial, que tem garantido a oferta de dólar no mercado, será capaz de conter a desvalorização cambial, como vimos esta semana. "A economia brasileira tem um canal de passagem de câmbio para o preço que não é desprezível. Por isso, a volatilidade do mercado sempre acende uma luz amarela.

Copom

Outro reflexo do nervosismo do mercado está na política monetária com possíveis mudanças nos planos do Comitê de Política Monetária (Copom) em relação ao ciclo de queda da taxa básica de juros da economia (Selic). Na reunião desta semana (terça e quarta-feira), por exemplo, já será possível verificar se houve algum reflexo sobre a decisão do BC. Isso porque a política monetária está pautada pelo cumprimento da meta inflação.

Quando o mercado financeiro vivia em céu de brigadeiro, até duas semanas atrás, economistas apostavam na Selic na casa de 13% em dezembro. Hoje o cenário está alterado e o juro pode fechar o ano em 15%, avalia o economista da Austin Rating, Alex Agostini. Reflexo disso seria um crescimento menor da economia, com baixa evolução de emprego e renda. Com a Selic em nível elevado, as taxas de juros cobradas pelos bancos também ficariam altas e desestimulariam o consumo.

Tudo isso por causa de conjecturas que podem não se confirmar, dizem os analistas. "Por enquanto, todos os dados nos levam a crer que estamos passando por um fenômeno financeiro e não problemas econômicos", afirma o economista da Modal Asset Management, Alexandre Póvoa. Segundo ele, a volatilidade do mercado começou por temores em relação ao ciclo de aperto monetário dos Estados Unidos.

Os economistas ainda não conseguiram captar a mensagem do novo presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, quanto ao futuro dos juros. O medo é que a alta da taxa americana comprometa o crescimento econômico do país e, conseqüentemente, o do mundo.

Na opinião do economista do Deutsche Bank, José Carlos de Faria, ainda é cedo para dizer que acabou a festa dos mercados emergentes, que nos últimos anos se aproveitaram da elevada liquidez no mundo e reduziram consideravelmente seus riscos. Mas certamente, diz ele, não teremos mais a mesma tranqüilidade de antes. "O mercado continuará volátil porque ninguém sabe se o Fed vai parar ou elevar ainda mais os juros.

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