O antigo Movimento Democrático Brasileiro, que se transformou em Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB e chegou a se proclamar, com euforia, o "maior partido político do Ocidente", hoje é caudatário do PT, que nem existia quando a agremiação de Ulisses Guimarães teve seus dias de glória. Sucesso que não se traduziu pelo poder conquistado na União e em quase todos os estados brasileiros, mas pela coragem e tradição de luta contra a ditadura militar, a bandeira do civismo e da democracia que a agremiação política encarnava e retratava na figura respeitada de seu líder Ulisses Guimarães.
Os mais jovens não acreditariam na trajetória desse MDB, hoje PMDB. Ele foi conquistador e vítima do poder. Carregando a honraria de ser o principal moto da redemocratização, teve como prêmio um poder político tão vasto que se transformou em ímã de indiscriminado adesismo. Escreveu-se, então, que tinha a porta da frente sob controle, mas descuidava da dos fundos, por onde iam ingressando oportunistas e, não raro, vigaristas. O resultado foi a descaracterização dessa construção política, que tinha como estamentos básicos sólidos princípios democráticos.
Alguns dissentiram. Saíram do PMDB e criaram o PSDB, agremiação que chegou ao governo federal com a eleição de Fernando Henrique Cardoso.
Mastodôntico, o PMDB passou a não mais poder resolver os problemas nacionais e, muito menos, levar adiante seu ideário. Mesmo porque ideários muitos começou a ter, na medida em que abrigou diversas correntes de pensamento e outras mais de grupos que não pretendiam senão o poder pelo poder. Hoje, sob a presidência do jurista e político Michel Temer, é caudatário, pingente do governo do PT, até há pouco uma agremiação diminuta, mas com uma forte e admirada liderança, a de Lula, o metalúrgico.
No próximo dia 12 haverá uma convenção nacional do PMDB. Na pauta, a volta à velha e histórica sigla MDB. E o retorno à independência como uma agremiação competitiva, capaz de oferecer ao eleitorado brasileiro candidatos próprios, inclusive à Presidência da República.
O PMDB está dividido. Um grupo atende aos interesses de Lula e do PT e quer ficar neste governo. Ficar, não contentando-se com dois ministérios e mais alguns empregos, mas barganhando pelo menos mais uma pasta (e poderosa) e outros empregos.
Outro grupo, que esteve reunido na semana passada em Curitiba, liderado basicamente pelo presidente Michel Temer, o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia e o governador do Paraná, Roberto Requião, além de outros próceres de prestígio, quer independência.
"Não é rompimento com o governo, mas acabar com o atrelamento, encilhamento, com o apoio mecânico. O partido tem que votar naquilo que acredita, não naquilo que não acredita, só porque tem dois ministros e meia dúzia de empregos", prega Requião. Ele não propõe rompimento, mas desvencilhamento, liberdade para apoiar quando merecido e discordar quando necessário.
E propõe, principalmente, um passo que, se for dado na convenção do dia 12, será histórico: a volta do PMDB à sigla MDB, com contornos que o façam merecer o título de partido e tenha condições de disputar o poder com candidato próprio.
Temer insiste que, por seus cálculos, o grupo da independência do PMDB vencerá, enquanto Lula e seu governo apostam na negociação, oferecendo mais cargos para manter o partido de Ulisses submisso, emprestando-lhe a densidade que, nas urnas e no exercício do poder, sozinho ainda não alcançou.