A volta do álcool

Com o recuo da cotação do petróleo após a invasão americana no Iraque e a valorização do real no governo Lula, o preço da gasolina deverá cair nos próximos dias. Mesmo assim, o álcool continua tendo um preço competitivo, tanto que as montadoras começam a apostar nos motores “flex-fuel”, ou seja, com flexibilidade de combustível, capazes de funcionar com álcool, gasolina ou uma mistura dos dois em qualquer proporção.

A volta do álcool é uma excelente notícia, sobretudo sob os pontos de vista tecnológico e ambiental. Por ser um combustível oxigenado, ele é menos poluente do que a gasolina, que é uma mistura de hidrocarbonetos. A queima do álcool produz menos energia, o que eleva o consumo, mas, graças à diferença de preços, o combustível etílico pesa menos no bolso do consumidor. E tem mais uma vantagem: possui maior poder antidetonante (a chamada “octanagem”), portanto resiste a maiores taxas de compressão, resultando em motores mais potentes.

Em meados dos anos 80, a supremacia do álcool nas vendas de veículos novos era gritante, chegando a mais de 90% em 1985 e 86. Na época, carro a gasolina, só por encomenda. Alguns modelos, como os esportivos Gol GT, Monza S/R e Escort XR3, só existiam na versão a álcool. Em termos de desempenho, um motor 1,6 litro a álcool era equivalente a um 1,8 litro a gasolina.

Tudo corria bem até que, no fim da década, a valorização do açúcar no mercado internacional incentivou os usineiros a apostarem nesse produto, desestimulando a produção de álcool. Com o desabastecimento, as filas nos postos e a insegurança, o consumidor começou a fugir do álcool, voltando para a velha gasolina. Enquanto isso, caiu a reserva de mercado da informática e a injeção eletrônica, baseada em microchips, foi liberada. A novidade tecnológica acabou beneficiando os carros a gasolina, que passaram a ter melhor desempenho e menor consumo. E os veículos a álcool praticamente desapareceram do mercado.

Nos anos 90, surgiu outra alternativa de combustível: o gás natural comprimido (GNC), também conhecido como gás natural veicular (GNV). Surgiram alguns modelos bicombustíveis, a álcool e a gás natural ou a gasolina e a gás natural. Aos poucos, os carros a álcool reapareceram, em algumas versões, dirigidas principalmente aos taxistas.

Agora, com os motores “flex-fuel”, o consumidor pode abastecer o carro com álcool, para aproveitar o melhor preço. Quando o produto faltar, ele pode completar o tanque com gasolina. É claro que ainda há algumas limitações, já que toda nova tecnologia acaba pagando o preço do pioneirismo. Por exemplo: a taxa de compressão é a mesma dos motores a gasolina, impedindo que se aproveite a maior octanagem do álcool. Mas já é um começo.

Ari Silveira (ari@pron.com.br) é chefe de reportagem de O Estado.

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