Antigamente era diferente. A gente ouvia dizer que as novelas imitavam a vida. Mas o mundo mudou de uma certa forma nos últimos anos, que há um bom tempo está acontecendo exatamente o contrário. As novelas estão dizendo como devemos nos comportar daqui para frente. Esta mania brasileira que existe desde que a televisão tomou conta de todos os lares, sem dúvida, tem um papel fundamental no comportamento das pessoas. Os psicólogos poderiam explicar melhor essa situação, mas a constatação é inevitável.
É a neta que maltrata os velhos avós, é a mulher que morre de ciúmes pelo marido e é capaz de peripécias para “defender o seu pedaço”, é a madame que transa descaradamente com o motorista de táxi, é a outra que esconde um passado de infidelidade e traições e uma outra ainda que apanha, apanha, mas não larga do marido. Chamam isso tudo de “Mulheres apaixonadas”. Imaginem se o título fosse outro: “Mulheres devassas”, por exemplo.
E o pior é que tem gente que está achando que a madame sair com o taxista, esbaldar-se com ele no motel e recriminar o mau desempenho sexual do marido é coisa de gente normal. O interessante dessa trama de mulheres apaixonadas não tem apresentado nenhuma mulher que contrai aids do motorista de táxi, nem outra que passa fome porque foi abandonada pelo marido. São todas muito ricas, independentes, poderosas. E o mais interessante ainda é que poucos são os homens que traem, nem os maus amantes têm seus dias de orgia, como era de se esperar. Ou será que esses caras são tão ruins de cama que se desinteressaram tanto pelo sexo que nem o praticam? Historieta de visão direcionada, própria para aniquilar com as práticas convencionais de nossas já mal estruturadas famílias. É uma libertinagem a toda prova em nome da audiência.
Agora, como quase nada se aproveita na TV aberta hoje em dia, não é de se admirar que a moda pegue. Uma recente estatística na Alemanha acaba de comprovar que as mulheres estão traindo muito mais que os homens. E tudo em nome do amor. Agora vamos fazer um exercício de memória: alguém aí, que assiste novela na TV, é capaz de lembrar algum gesto que tenha inspirado algum bom costume na sociedade? Certamente serão muito poucos os que haveremos de rememorar. Afinal, gesto positivo não dá audiência.
O que dá público mesmo é a “sacanagem”, tanto que a Xuxa, o Gugu, o Faustão e tantos outros se esbaldam de fazer sucesso e ganhar rios de dinheiro nas costas de um público lamentavelmente fiel e que está pouco se importando com qualidade de vida ou zelo comportamental. Em contrapartida, o que as grandes redes querem é massificar sua programação. Não importa a qualidade do produto oferecido, o que vale mesmo é a repercussão que ele causa e o resultado comercial que oferece.
Não se trata de incentivar a censura, mas é preciso dar um freio em tanta porcaria que entra pelo vídeo de nossa televisão. Quem sabe se a gente optar por outras ações e divertimentos não contribua para que eles mudem de opinião? Seria um começo. Enquanto continuarmos alimentando a quebra dos nossos conceitos mais puros de sociedade, família e comportamento, vamos estimular a decadência cada vez maior das nossas instituições.
Osni Gomes
(osni@pron.com.br) é jornalista, editor em O Estado, e escreve aos domingos neste espaço.