A vez do eleitor

Nada que uma bem pensada legislação eleitoral não possa reparar: parlamentar acusado de ferir as normas do decoro parlamentar – certo de que será cassado – renuncia ao mandato para não se privar do direito de candidatar-se já na eleição seguinte. E estamos conversados.

Foi o caminho seguido pelos deputados José Borba (PMDB-PR) e Paulo Rocha (PT-PA), que à hora undécima apresentaram suas renúncias à mesa da Câmara, a fim de evitar que tivessem os processos de cassação iniciados pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa.

Cabe agora aos eleitores desses respectivos homens públicos, se é que eles ainda desfrutam a prerrogativa de nomear-se por essa distinção, completar o serviço inacabado no âmbito do Congresso: cassar-lhes definitivamente os mandatos, desprezando suas virtuais candidaturas porque foram flagrados em conduta indigna com o mandato popular.

Segundo os jornais, o Planalto não ficou satisfeito com a renúncia de apenas um deputado petista (quatro serão processados e José Dirceu ainda se debate para evitar o pior), tendo em vista a necessidade premente de desanuviar a barra do Congresso, onde desde junho só se fala em corrupção.

Nenhum projeto importante foi discutido ou votado, dada a paralisia geral que se abateu sobre o Poder Legislativo e, por extensão, sobre o sistema político, aí incluído o governo, na verdade, o principal responsável pelo maior engessamento da gestão pública jamais visto no País.

Ao longo da crise, o presidente Lula não desistiu de nenhum dos compromissos de sua concorrida agenda internacional, embora na maioria dos eventos a que compareceu tenha deixado a nítida impressão do bem-estar experimentado por estar a milhares de quilômetros de Brasília e dos problemas.

Exemplo cristalino do descompasso existente no governo, foi a declaração feita na Espanha pelo presidente, garantindo que o foco de aftosa estava debelado. Horas depois, o próprio governo teve de engolir o sapo e confirmar o registro de três novos focos da doença nas proximidades da fazenda de Eldorado, deixando a proverbial segurança transmitida por Lula exposta ao ridículo.

Pois bem. Os petistas não renunciaram como queria o Planalto e, desse modo, o governo continua preso à cadeia de circunstâncias que ele mesmo gerou, pela calculada leniência com que tratou as denúncias de corrupção. Aos poucos, convencida que não há alternativa, a nação se afasta do governo.

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