A vez de Chique-chique

Chegou a vez de Severino Cavalcanti, presidente da Câmara e terceiro homem mais importante na escala hierárquica da República, ser tirado para rebolar no interminável forró instalado em Brasília.

Quem diria, mas o ilustríssimo cavalheiro que na semana passada foi espinafrado – com justiça – pelo deputado Fernando Gabeira, tendo em vista o corpo-mole que transpareceu quanto à punição de parlamentares envolvidos no chamado mensalão, é exibido à nação como praticante do mesmo vício asqueroso, cujo castigo queria abrandar.

O concessionário de um restaurante que funciona nas dependências da Câmara dos Deputados afirmou ter pago R$ 10 mil por mês a Severino Cavalcanti, para obter vantagens na renovação do contrato com a instituição. Foi um deus-nos-acuda e, no ato, a oposição pediu o afastamento do presidente da Câmara até a apuração total do caso.

Setores do arco partidário representado na Casa, expostos como canais extravasores do dinheiro obtido com os empréstimos da dupla Delúbio-Marcos Valério, leia-se o PP do próprio Severino, apressaram-se a hipotecar solidariedade ao companheiro atingido pela chumbada.

O deputado José Janene, um dos mais notórios personagens do dramalhão, não teve pejo em declarar que essa é uma trama para fragilizar Severino e derrubar o presidente Lula e José Alencar.

O delírio de Janene resvala, ainda, para suposta manobra urdida nos corredores do Congresso, visando colocar na presidência da Câmara o substituto imediato de Severino, o deputado José Tomaz Nonô, ?para fazer eleição indireta?.

O homem da mala no processo de corrupção dos deputados pepistas, como já havia feito na Câmara Municipal de Londrina à época do prefeito Antônio Belinati, segundo denunciou um ex-sócio, procura agora identificar uma tentativa de golpe contra as instituições. Só faltava essa.

Chique-chique tantas fez que acabou caindo do jegue. A arrogância de sertanejo façanhudo, as bravatas contumazes e o heroísmo bisonho dos personagens da poesia de cordel sucumbiram à denúncia do ?mensalinho?.

Enojada, a sociedade assiste ao triste espetáculo dado pelas figuras que julgava dignas do respeito constitucional. O pior é a crescente expectativa de denúncias ainda mais chocantes.

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