A vaia e o desastre

No auge da comoção de todo o povo brasileiro com o acidente do Airbus da TAM, foi divulgada uma interessante e inteligente análise das repercussões políticas do trágico evento. Quem a fez foi o cientista político Riordan Roett, diretor do Departamento de Estudos Latino-Americanos da John Hopkins University, de Baltimore, Estados Unidos. Na opinião daquele brasilianista, ?este acidente poderá marcar uma virada para a presidência de Lula. Não há dúvidas de que há raiva entre a classe média com o presidente. Uma sensação de crescente frustração entre os que lêem jornal e voam de avião?, afirma. Roett considera que uma recente manifestação desse sentimento foi a estrondosa vaia sofrida pelo presidente no Maracanã, na abertura dos Jogos Pan-Americanos. Acentua que essa vaia partiu de um público formado de pessoas que ?pagaram ingressos caros para estar lá?, gente de posses.

O acidente aéreo aumentou na classe média a impressão de que o governo é inoperante e demonstra pouco caso em relação aos problemas que a afligem. Esta é mais uma conclusão do analista. Acrescentou que ?a classe média do Sudeste, que votou em Geraldo Alckmin, está cada vez mais dando sinais de sua frustração com Lula. Eles têm uma sensação de que o presidente e o PT não se importam com eles e que o governo é inoperante e incapaz de combater a corrupção?.

Mas o brasilianista norte-americano reconhece que ?quem não costuma viajar de avião ou comprar ingressos caros para eventos esportivos segue dando forte apoio a Lula?. ?No Nordeste – diz Roett – Lula ainda é popular, especialmente entre os que dependem de programas assistenciais como o Bolsa Família?. Prevendo uma possível ampliação da atual divisão sul-norte no que diz respeito à popularidade do presidente, o analista não crê que essa disparidade possa ganhar os contornos de um choque social semelhante às tensões vividas em outros países sul-americanos. ?Não haverá confrontações, como na Bolívia ou na Venezuela. A classe média vai seguir demonstrando o seu descontentamento, mas dentro da lei e da Constituição?, vaticina o esclarecido brasilianista. Essa opinião, que para nós brasileiros parece óbvia, partindo de um analista norte-americano dos quadros da maior e mais importante universidade dos Estados Unidos e uma das mais prestigiosas do mundo, serve para desfazer os equívocos tão comuns nos EUA sobre o Brasil e os demais países da América Latina. Equívocos que se verificam na opinião pública e até mesmo entre autoridades do poderoso país do hemisfério Norte.

Demonstrando conhecimento e sensibilidade para com o que acontece no Brasil, o professor da John Hopkins University diz que o impacto sobre Lula não é algo que possa ser medido de forma imediata. ?É um desgaste que cresce aos poucos. Não haverá nenhum teste de popularidade a ser cumprido no curto prazo. As eleições municipais só acontecerão dentro de quase dois anos. E os índices de Lula nas pesquisas seguem elevados.?

O professor norte-americano assegura que o acidente com o Airbus não deverá mudar a postura do governo Lula: ?Brasília está mergulhada em uma série de grandes escândalos. Esta tragédia provavelmente ganhará o quarto ou quinto lugar em termos de prioridade?, afirma. E conclui: ?Lula deverá seguir adotando reformas cosméticas?.

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