A urgência da interação com a linguagem nas aulas de Português (I)

As práticas de Ensino de Língua Portuguesa, como língua materna, devem voltar-se para experiências significativas, pois ?o domínio de uma língua é o resultado de práticas efetivas significativas e contextualizadas? (POSSENTI, 2002). Dessa forma as práticas, que envolvem o Ensino de Língua, devem partir das reflexões vindas do professor sobre os recursos significativos a serem utilizados com base nas representações do aluno.

Nasce, assim, a perspectiva para um ensino de língua inclusivo em uma sociedade profundamente desigual como a brasileira. O termo inclusão, utilizado nesta pesquisa, vem da idéia de valorização das potencialidades do indivíduo. Aplicado, inicialmente, ao campo da educação de portadores de necessidades especiais. A inclusão vem sendo compreendida de forma mais abrangente pelos educadores, que passam a perceber a necessidade de políticas de inclusão a todos e a tudo, que historicamente é ou foi colocado à margem do processo de ensino aprendizagem. No caso específico deste estudo, a linguagem do aluno.

O termo desigualdade será compreendido, igualmente de maneira mais ampla, não apenas de caráter socioeconômico, mas no que se refere ao cultural, histórico e geográfico. Compreende-se que o indivíduo é fruto e agente do meio que o cerca, pois está sujeito a várias agências de letramento. As agências são exatamente as formas de interação do indivíduo com o mundo e nesse com a linguagem, seja ela codificada e regulamenta pela escrita ou não. A principal agência de letramento é a escola, mas o indivíduo interage com a família, a sociedade, a cultura historicamente determinada, a religião, entre outros agentes, o que propicia uma evolução cultural e por sua vez lingüística.

(…) a leitura crítica da realidade, dando-se, num processo de alfabetização ou não e associada, sobretudo a certas práticas, claramente políticas de mobilização e de organização, pode constituir-se num instrumento para o que Gramsci chamaria de ação contra-hegemônica. (FREIRE,2003, p.21).

Ensinar privilegiando a interação com a linguagem, neste contexto é ser contrário a uma ação hegemônica e posicionar-se a favor de uma universalização política e crítica, porque uma vez desenvolvida plenamente a competência comunicativa, por meio da linguagem, o sujeito será capaz de representar, compreender e contextualizar o escrito em ações que envolvam, também, os conhecimentos necessários para a emancipação e autonomia da própria aprendizagem.

Geraldi, 2002 afirma que a Língua e seu ensino, ao contemplar seu caráter evolutivo, identifica-se com o processo de viver e com o processo de interagir. O ensino de Língua Portuguesa, se não identificado com o meio social, torna-se mais um elemento excludente na escola. Pois, não se percebe seu reflexo na ação cidadã de compreender e interagir com a linguagem social do indivíduo.

A interação está, por sua vez, condicionada a determinantes externos. O que nos leva a afirmar que uma prática possível de Língua Portuguesa é a da valorização da linguagem, pois intenciona a aprendizagem como um reflexo e potencializando seu caráter informativo que viabiliza as relações do sujeito dentro e fora da sala de aula.

SOARES, 1986, afirma que não significa, apenas defender um bidialetismo funcional na escola, ou seja, a linguagem do ?eu? social e a linguagem normatizada pela língua padrão como elementos díspares, mas sim, conforme a autora, em uma retomada a Gramsci, a interação em sala de aula pela linguagem deve recuperar a função transformadora da escola em que se propiciará a inclusão das classes ditas subalternas à compreensão dos meios iniciais à trajetória de conscientização e politização do discurso do outro, no diálogo.

Freire (2000:78) afirma que não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão. (…) O diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo e não se esgotam, portanto, na relação eu-tu. A constante recriação da cultura por parte de cada membro de um determinado grupo cultural é a base do processo histórico sempre em transformação das sociedades humanas. O que indica um ensino de língua pautado na relação dos sujeitos, desta forma contemplando suas representações pela linguagem.

De acordo com Ingedore Villaça Koch, a linguagem vem, historicamente, sendo concebida pela humanidade com base em três princípios: como apresentação do mundo e do pensamento; como instrumento de comunicação e como forma de ação e interação.

A mais antiga delas, sem dúvida, é a primeira, mas isso não significa que não haja seguidores desse e dos demais pensamentos. Na primeira concepção, a linguagem é vista como sendo uma forma de refletir o pensamento do homem. A segunda concepção trata a linguagem como um veículo para transmissão de informações. A terceira concepção é a que percebe a linguagem como forma de ação, ou seja, a linguagem é a ação social sobre a língua.

O professor que interage com a aprendizagem, possibilita o diálogo, não somente como transmissor, mas como aquele que possibilita a produção ou reconstrução de conhecimentos. Não sendo aquele que forma, reforma ou transforma, porém aquele que dialoga e no diálogo faz uma interação dialógica com o discente e reconstrói formas de conhecer. (FREIRE, 1996 p.79).

A informação deve estar relacionada à contextualização, o que requer uma seletividade baseada na qualidade e na utilidade. O ensino de Língua Portuguesa deve inserir elementos novos à forma de linguagem que o aluno já possui, acomodando e expandindo seu conhecimento a respeito da sua forma de percepção das variantes lingüísticas.

A Linguagem age como elemento central para discussões sobre: o fracasso escolar; à marginalização das classes menos favorecidas e os baixos índices alcançados pelos alunos em exames oficiais. A saber: SAEB e PISA.

A linguagem nasce com o indivíduo e que ele não necessita aprendê-la, pois não se aprende a língua materna nós evoluímos com ela. (BAKHTIN 2002, p.108). Portanto, o ensino de Língua Portuguesa está em organizar os conhecimentos em linguagem para que o aluno o leia e o compreenda em suas diferentes formas de representação.

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