Não há paradeiro para o caudaloso rio de dúvidas que assombra o horizonte próximo do eleitor brasileiro, mais uma vez na iminência de apresentar-se à mesa receptora de votos onde seu nome está inscrito. A sucessão impiedosa de denúncias e acusações de afrontosa corrupção por parte dos chamados homens públicos, apesar da revolta de muitos, passou a ser considerada por outros um fato corriqueiro nos meios políticos, tal o caráter ubíquo adquirido pela transgressão de princípios éticos e morais que os detentores de cargos eletivos juraram defender.

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Estamos agora sob o impacto dos trambiques que uma quadrilha fez contra o Tesouro Nacional. A gangue foi aparentemente organizada pelo empresário Darci Vedoin, proprietário da Planan, sediada em Cuiabá, MT, com a finalidade exclusiva de se apropriar de recursos públicos. A Operação Sanguessuga da Polícia Federal descobriu que a quadrilha forjava licitações em conluio com prefeituras interessadas na aquisição de ambulâncias, induzia deputados federais a incluir os pleitos nas emendas de direito e, com facilidade espantosa, conseguia a aprovação dos pedidos no Ministério da Saúde, graças aos excelentes serviços prestados pela servidora Maria da Penha. O requinte desse autêntico romance policial é que a assessora bem postada na estrutura do Ministério da Saúde ali fora plantada por competência ainda não inteiramente identificada, depois de ter contribuído com seus bons ofícios na própria Planan.

Depois do escândalo do valerioduto, quando se supunha estar completo o carnê criminal ilustrado por insignes integrantes do Congresso Nacional, a bem da verdade, transformado na atual legislatura numa casa de tolerância, num vaivém de cortinas apareceu em cena a Operação Sanguessuga, com mais algumas dezenas de parlamentares enlameados pelas fraudes contra o Orçamento da União. A apropriação indébita dava-se mediante o rateio das sobras obtidas na compra de ambulâncias com preço superfaturado. E nessa cumbuca enfiaram a mão empresários, parlamentares, assessores, servidores públicos federais e municipais, drenando para seus bolsos a quantia de R$ 110 milhões.

O delegado da Polícia Federal, Tardelli Boaventura, e o procurador da República em Mato Grosso, Mário Lúcio Avelar, que uniram forças para deslindar a roubalheira, revelaram em depoimento à CPMI dos Sanguessugas que a avidez da quadrilha se abateu igualmente sobre recursos do Fundo Nacional de Educação (FNDE), destinados à aquisição de veículos para transporte escolar, e do Ministério da Ciência e Tecnologia, na compra de veículos usados no programa de inclusão digital.

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As acusações alcançaram tamanha contundência que o deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), presidente da CPMI, aprovou o pedido de afastamento dos deputados Nilton Capixaba (PTB-RO) e João Caldas (PL-AL) de suas funções na mesa diretora da Câmara. Esses deputados foram eleitos, respectivamente, segundo e quarto secretários, mas entremearam a nobre condição de homens escolhidos para o exercício de funções diretivas na Câmara com a asquerosa promiscuidade com a máfia das ambulâncias superfaturadas.

A Polícia Federal instaurou inquéritos para apurar a responsabilidade de doze deputados no esquema da Planan, encaminhando-os ao crivo do Supremo Tribunal Federal (STF) em consonância com a prerrogativa facultada pelo instituto da imunidade parlamentar. Um escárnio aos ladrões de galinha pilhados no ato descuidista, de pronto lançados em cárceres imundos e apinhados onde vão retocar o aprendizado da vida marginal.

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