Sob o insólito argumento que o governo precisa de espaço maior na mídia para divulgar suas realizações, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, ex-repórter da Rede Globo em Nova York, onde se notabilizou pelas bombásticas matérias que visavam conferir ao Fantástico uma aura de credibilidade, mesmo fazendo concessões exageradas ao sensacionalismo, está mais uma vez na berlinda ao defender a criação de um novo canal estatal de televisão.
Ora, a maioria absoluta dos brasileiros sabe que o governo federal e as empresas estatais despontam entre os maiores anunciantes do País, usando e abusando da propaganda para mostrar à população o que está fazendo (ou o que deveria estar fazendo), esbanjando boa parcela do dinheiro arrecadado pelo sistema tributário, a julgar pelo imenso desfile de anúncios requintados que, no fundo, não conseguem dissimular uma inconsistência assustadora.
Ademais, é inadmissível que o ministro das Comunicações não tenha informações sobre o espaço que o governo federal desfruta na imprensa – de modo geral – para a divulgação espontânea de seus feitos.
Talvez o que incomode o governo, levando o ministro Hélio Costa a alvitrar que o momento é azado para semear a idéia do novo veículo, seja a forma independente e, não raro, contundente da crítica à inépcia da gestão pública, com matérias diárias apontando a ausência do Estado em assuntos elementares como saúde, educação e segurança, para ficar na superfície do problema.
Assim, ao propor a criação de uma Rede Nacional de TV Pública do Executivo, projeto orçado em R$ 250 milhões e de implantação prevista para quatro anos, o ministro revela a intenção de deixar mais uma marca altissonante da passagem pelo governo, mesmo correndo o risco de se assemelhar aos menestréis, saltimbancos e prestidigitadores que faziam graça para entreter as tediosas cortes do passado.
O tema promete esquentar nos próximos dias, pois já pipocaram as primeiras referências negativas à proposta, até por sua inevitável similitude com situações que acabaram sendo engolfadas pelo vezo autoritário mais deslavado. O dinheiro público não pode continuar sendo gasto com tamanha irresponsabilidade.