Na tarde da última sexta-feira, surgiu a notícia. Um rebocador a serviço da Petrobras encontrou na noite do dia anterior, a 100 quilômetros da costa de Maricá, no Rio de Janeiro, partes de um corpo humano em avançado estado de decomposição. Pela corrente marítima e pelos retalhos da roupa, oceanógrafos suspeitaram que estes seriam restos mortais do padre Adelir de Carli, que desapareceu no dia 20 de abril tentando bater um recorde de vôo com balões. Seria o final, triste mas esperado, da grande tragédia de 2008 no Paraná até agora.
Padre Adelir tinha a certeza de estar cumprindo uma missão na Terra. Ele colocou toda a sua pregação de fé católica em nome do povo do litoral e da Pastoral Rodoviária, que lutava pela defesa dos caminhoneiros e pela melhoria das condições das estradas do País. Para chamar a atenção da mídia e das autoridades, resolveu fazer aparições voando com balões.
Nas primeiras vezes, correu tudo bem. Numa delas, foi acompanhado por uma equipe de televisão. Quando planejou bater o recorde de vôo, todas as emissoras estavam preparadas para acompanhar o padre Adelir. Não era mais uma ação para defender os caminhoneiros. Para a mídia, era o fato em si, um padre voando com balões de gás hélio, e não o motivo do fato, que era buscar a reflexão para os problemas vividos por quem trabalha nas estradas.
Numa manhã de domingo, nada indicava que seria possível voar. O aeroporto de Curitiba sofria com a baixa visibilidade, por conta da neblina, das nuvens e do vento. Em Paranaguá, repórteres estavam apinhados no descampado de onde sairia padre Adelir, que naquele momento rezava uma missa. Ninguém pressionou, mas todos estavam ali para vê-lo voar.
Ele foi, e aconteceu o que todos sabemos e, agora, a família terá que enfrentar a barra do exame de DNA para confirmar se o corpo realmente é dele. Padre Adelir se imolou pelos seus pelos fiéis de Paranaguá e de todo o litoral do Estado, pelos caminhoneiros, policiais rodoviários -, como tantos mártires. Deixou a vida para virar exemplo de luta. Que seus sonhos e sua iniciativa não sejam em vão.
