A eleição para prefeitos já passou. Embora ainda exista espaço para a demagogia, ela já não pode partir dos vencedores com a prodigalidade e descaramento com que candidatos a usaram durante a campanha. Nas cidades de porte médio e grande, inclusive em Curitiba, um dos temas que se prestou a maiores discussões e mirabolantes promessas demagógicas foi o das tarifas do transporte coletivo.
Na capital paranaense há muitos anos adota-se a tarifa social, preço único para mais de um trecho do sistema integrado, o que permite que as classes de menor renda paguem uma única passagem. E os moradores de bairros centrais acabem bancando o benefício concedido aos de menor renda. Quem mora perto paga o mesmo de quem mora longe, um processo de distribuição da despesa de transportes em que os trabalhadores de menor remuneração e que, num sistema convencional, seriam os mais castigados, acabam pagando caro, mas menos do que pagariam se lhes fossem cobradas duas ou três passagens por terem de percorrer vários trechos.
O sistema sempre foi aplaudido e imitado por outras cidades brasileiras. Ou por elas invejado, pois ainda tentam a tarifa social. Mas mesmo com esse sistema, as passagens de coletivos em Curitiba continuam caras para os que subsidiam os moradores de bairros longínquos. E caras também para estes. A relação que o usuário faz não é a da distância percorrida, mas o quanto gasta em transportes em relação ao seu orçamento.
Em recente encontro dos prefeitos eleitos de Curitiba e São Paulo, Beto Richa e José Serra, calculou-se que famílias de classe média baixa e baixa gastam em transporte coletivo cerca de 40% do seu orçamento. Um absurdo! São famílias cujos orçamentos domésticos em geral não são suficientes sequer para moradia, habitação e outras necessidades essenciais. O transporte deveria significar um percentual bem pequeno, pois é apenas um meio de locomoção das pessoas para o local de trabalho e deste para casa. Despesa que não pode ser cortada, sob pena de não poderem trabalhar e ganhar o parco salário que as sustenta.
Durante a campanha eleitoral em Curitiba, houve candidatos que foram aos meios de comunicação, nos programas de propaganda gratuita, prometendo benesses, como cortar os preços das passagens pela metade, dar gratuidade aos estudantes e daí por diante. Sempre que lembravam de um numeroso contingente de eleitores que pudesse acreditar nesses milagres e convencer-se de que seriam motivo para votar no demagogo.
Nenhum desses candidatos chegou a dizer como iria baixar os preços das passagens, pois elas têm custos e, sem sua redução, bem como da lucratividade de quem explora o sistema de transportes, é impossível reduzir as tarifas do transporte coletivo, mesmo que não seja para toda a população.
Agora, nessa reunião de Beto Richa e José Serra, em São Paulo, ambos decidiram trabalhar em conjunto e convocar para a mesma luta outros prefeitos, reivindicando algo realmente eficiente para baixar os preços das passagens: a redução dos impostos que sobre elas, e sobre os meios de transporte e insumos utilizados pelas transportadoras, incidem. Uma reivindicação conjunta e conseqüente, pois com menos tributos dá para baixar as passagens. Em suma, o governo, inclusive e principalmente o federal, pode ajudar a reduzir as tarifas de transportes coletivos.
