A saga imploratória dos advogados

O trabalho do advogado, ao contrário do que possam pensar os não envolvidos na área, não se resume a peticionar tranqüilamente em seus escritórios, atender clientes, fazer pareceres, acompanhar audiências.

Hoje, mais do que qualquer coisa, transformou-se em uma cruzada imploratória, que começa desde os pedidos, muitas vezes quase chorosos e desesperados a funcionários do cartório até as necessárias conversas com magistrados e membros do Ministério Público.

Ter que sair do escritório e ir ao cartório conseguir que sua petição seja juntada com agilidade, ter que tomar o tempo do magistrado ou de membro do parquet explicitando a urgência e relevância do pedido, com certeza, não é o que se pode chamar de atividade profissional prazerosa. Com as ressalvas às exceções, é claro, não se pense que os advogados são fãs das visitas aos gabinetes, de serem obrigados a pedir e algumas vezes quase implorar, para que possam fiel e eficazmente desenvolver seu trabalho, contudo, são condutas necessárias na maioria das vezes que envolvem casos urgentes.

A vida do advogado é pedir, e muitas das vezes não obterá resposta positiva, todavia, ocasionalmente encontra a sua frente autoridades prepotentes, que se esquecem do dever de urbanidade e que se utilizam do cargo e função para resolverem suas pendengas emocionais e humilharem ainda mais, quem já na difícil tarefa petitória.

Não se olvida aqui dos maus profissionais advogados também, que fazem vergonha a classe, bem como aqueles que sem muito que fazer resolvem por visitinhas nada apropriadas aos gabinetes, contudo estes não representam à maioria.

Também de autoridades vocacionadas, que estendem as portas abertas de seus gabinetes a todos os advogados, lhes recebendo com educação e humildade, aliviando sobremaneira a já difícil tarefa do pedir, o que não significa fazer pareceres favoráveis ou deferir os pedidos, mas sim receber e ouvir educadamente, que não é mais do que se pede.

Os advogados não ignoram a carga do trabalho das autoridades judiciárias e dos cartórios, contudo, também estão sujeitos à mesma carga, com a difícil tarefa de serem obrigados a pleitear, na maioria das vezes além do papel, mas pessoalmente a fim de resguardar os direitos de seus clientes. Tudo isso poderia ser minimizado, com um simples e educado ouvir, sem demonstrações de mau humor, ou de indisposição despropositada, mas com o respeito mútuo que a labuta jurídica exige.

Basta pensar que, com certeza, se alguma destas autoridades um dia precisarem de um advogado, vai querer aquele que vá lutar por seu direito da melhor e mais eficaz maneira, mesmo que isso signifique expor-se ao pleito imploratório!

Caroline Said Dias é advogada. Membro da diretoria do IBDFAM/PR, diretora jurídica da Afavep. saidias@onda.com.br

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