Primeiro virá a reforma da Previdência Social. Será logo no começo do governo. Depois dela virá a tributária, seguida da reforma política, da trabalhista e da agrária. Este é o calendário das reformas pretendidas pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, segundo explicou a um grupo de investidores espanhóis o assessor econômico do Partido dos Trabalhadores, Guido Mantega.
A preferência pela reforma da Previdência tem – como já teve nas tentativas semelhantes do passado – uma explicação: ela é fundamental no ajuste das contas públicas, tamanho é o rombo anual que produz em ritmo sempre crescente. Mantega pouco falou sobre o que pretende o futuro governo, mas a proposta em linhas gerais não diverge daquela já tentada de fazer um sistema único, sem diferença entre os que pertencem ao setor público, sem limites no valor dos benefícios, ou ao privado, limitados no teto de dez salários mínimos.
Não se sabe se o assessor tem poderes para afirmar tudo quanto afirma. Mas, sem contestação até o momento, ele falou que a agenda a ser realizada pelo presidente Lula já foi definida. Resta saber se será cumprida. Como disse recentemente o presidente Fernando Henrique Cardoso, nem tudo é apenas uma questão de vontade política. Ele próprio tentou, logo no início, resolver a pendenga previdenciária, que não é de hoje, mas enfrentou de cara poderosas corporações dispostas a defender com todas as forças possíveis aqueles privilégios travestidos de direitos, como repetia em vão o presidente da República. Contra o que era necessário fazer insurgiu-se o partido do presidente eleito que ora se prepara para seguir a mesma estrada do governo que combateu sistematicamente.
Também estavam na agenda de FHC as reformas tributária e política, assim como as demais, incluindo a trabalhista e a do Judiciário, esta última por Mantega não referida. Vai daí que toma sentido o que dias atrás andou dizendo o presidente FHC a respeito da reinvenção da roda. Sua advertência, naturalmente, pretende ser o contrapeso ao ímpeto de governo novo que chega com a vontade reformar tudo, desprezando as lições, erros e acertos do que já foi feito. Às vezes é melhor aprender com os que já tentaram e, assim, partindo do que já existe, contribuir positivamente para o aprimoramento da coisa pública a serviço da sociedade.
A lembrança da roda pode ser tomada, entretanto, para servir também a outros figurinos. Por exemplo, aos governistas de hoje que, amanhã, serão oposição. E cabe muito bem na proposta de reforma da Previdência, onde a força corporativa que move a grande roda dos privilégios – razão da maior parte das distorções de que padecemos – é a mesma”. Com isso queremos dizer que qualquer proposta de reforma, da Previdenciária à Agrária, somente será bem- sucedida se contar com a efetiva boa vontade de todos os setores da sociedade, principalmente daqueles que se sentem representados no Parlamento. Caso contrário, estaremos apenas tentando reinventar a roda de sempre.
