O publicitário Marcos Valério negou hoje que tenha repassado R$ 4 milhões ao deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga denúncias de corrupção nos Correios.
Em declarações à imprensa e à CPMI, Jefferson tem afirmado que, em 2004, Valério foi responsável pela entrega desse valor em dinheiro, após uma negociação entre PTB e PT pelo repasse de verbas para a campanha eleitoral. O PT nega que tenha havido repasse em dinheiro. Em depoimento à CPMI, o líder do PTB na Câmara, José Múcio, confirmou que houve reunião para negociar a transferência de dinheiro e negou ter conhecimento de que o repasse efetivamente tenha ocorrido.
Marcos Valério chegou à reunião da CPMI com um habeas corpus preventivo, que lhe garantia o direito de não responder a todas as perguntas dos parlamentares e evita sua eventual prisão. Apesar disso, disse que estava disposto a colaborar com os trabalhos, e que o habeas corpus foi uma ação jurídica de seus advogados, como forma de garantir seus direitos como cidadão. "A República não vai cair por minha causa", afirmou.
Segundo o depoimento de Valério hoje, a empresa de comunicação SMP&B, de propriedade dele, ganhou ano passado, junto com outras três empresas, licitação dos Correios. O valor do contrato, segundo ele, foi de R$ 72 milhões, sendo que houve um aditamento, somando R$ 90 milhões para as três companhias vencedoras da licitação. Além dos Correios, a SMP&B tem, segundo Valério, contrato desde 2003 com a Câmara Federal e com o Ministério dos Esportes (assinado no governo anterior).
Já a outra agência de publicidade de Marcos Valério, DNA, tem, segundo ele, contratos com o Banco do Brasil, Ministério do Trabalho e Eletronorte. Ainda de acordo com Valério, esses contratos foram assinados ainda no governo anterior. Os contratos sofreram aditamento para continuarem sob vigência até hoje.
Valério disse que não houve qualquer tipo de favorecimento nas licitações e que a maior parte da renda de suas duas empresas vem da iniciativa privada. O publicitário disse ainda que, após afirmação do deputado Roberto Jefferson de que estaria envolvido com o pagamento de supostas mesadas a parlamentares, a vida de sua família mudou. Ele disse que, por tudo isso, queria mandar recado para a filha: "Não trabalhe para o governo".
Questionado sobre saques de alto valor nas contas de suas agências entre 2003 e 2004, Valério disse que o dinheiro deveria ser destinado a fornecedores e empregados que atuavam como pessoas jurídicas. "O dinheiro não era armazenado. Ia para pagar fornecedores", afirmou.
Marcos Valério de Souza confirmou que foi avalista do PT no início de 2003 em um empréstimo de R$ 2,4 milhões feito pelo Banco de Minas Gerais (BMG) e que chegou a pagar uma das parcelas da dívida, de cerca de R$ 350 mil. O empresário afirmou que, depois desse pagamento, pediu para deixar de ser avalista. Ele disse que, inicialmente, aceitou ser avalista do PT a pedido do ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares, e disse também que o dinheiro pago pela primeira parcela ainda não foi restituído pelo Partido dos Trabalhadores. "Fiz um favor", afirmou. "A palavra do meu amigo é que eles iam pagar. Não há interesse por trás".