Em um Congresso Nacional repleto de figuras assustadoras, aquele frágil senhor se destacava. A voz que saía baixa crescia quando percebia algum desatino dos poderosos. Sem se intimidar com governo ou com oposição, ele se apresentava de maneira tão clara que era dos poucos realmente independentes entre os 594 congressistas (513 deputados e 81 senadores).
O nome dele? Jefferson Péres. O senador do PDT do Amazonas faleceu ontem, aos 76 anos, surpreendendo família e amigos – ele tinha hábitos regrados, não bebia, não fumava, praticava exercícios, não deixava o stress vencê-lo. Tinha uma grande vitalidade. Por isso, um ataque do coração tão fulminante deixou o mundo político em estado de choque.
Jefferson Péres, senador havia treze anos, deixara o Amazonas em 1995 para ocupar um lugar de destaque na política brasileira. Ele incorporou os grandes tribunos do Senado – categoria tão em falta nas últimas décadas. Acima da questão ideológica, o senador deixava muito clara a sua atitude ética, não aceitando desvios de conduta de qualquer homem público.
Foi isso que o encaminhou (além do notório saber do Direito) para o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, sendo o relator do ?caso Luís Estevão?, senador que acabou cassado. No meio de diversos ?políticos profissionais?, Jefferson Péres diferia de seus iguais justamente por não ser profissional. Era o amador na melhor acepção da palavra, fazendo política de forma limpa e desapegada.
Honrou, no período em que esteve na câmara alta, os grandes nomes do Congresso Nacional. Entra hoje para uma lista de defensores da liberdade e da ética, como Sobral Pinto, Djalma Marinho, Adaucto Lúcio Cardoso e Affonso Arinos e que, hoje, tem Pedro Simon (PMDB-RS) seu talvez único referencial.
Jefferson Péres fará falta em um momento de renovação de ideais na política brasileira. Quando mais precisamos de exemplos positivos, perdemos um deles. Mas sua herança está aí, mais viva do que nunca.
