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Com os resultados das eleições municipais, era de se esperar que Lula reformulasse o seu governo. O entendimento foi de que o pleito não significou uma vitória, embora acusasse crescimento do PT. Houve derrota em todo o Sul do País e nas principais capitais, algumas importantíssimas para que se concretize o sonho do presidente de se reeleger. A reforma já começou. Mas não se faz pacificamente, nem tendo como tônica a consolidação de uma coalizão política em que predomine a força eleitoral sobre a unidade político-programática e ideológica.

O que está acontecendo é que o governo, que já não era tão de esquerda como sonharam seus integrantes antes de eleitos e enquanto lutando pelo poder, agora bandeia-se para a direita, abandonando a bandeira socialista e nacionalista. Virou neoliberal, como é conveniente a um governo petista que está aliado a forças como o PL (liberal?) e outras de centro.

A renúncia, por discordância com o governo, da senadora Heloísa Helena e a expulsão de deputados federais petistas ortodoxos que discordaram da reforma da Previdência, já demonstraram que o governo tendia a fazer um governo acorde com o mais autêntico capitalismo e de mãos dadas com o Fundo Monetário Internacional.

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Agora, cai o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o economista Carlos Lessa, contrário às idéias e políticas do ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e dos demais que aderiram ao receituário do FMI.

Para Lessa, falando do aumento da taxa básica de juros promovida pelo Copom do Banco Central, foi "um pesadelo". Entende ele que Meirelles "emite todos os sinais de que crescer neste momento é um pecado". Os juros básicos acabam de subir para 17,25%. Não foram poucas, também, as críticas do presidente nacionalista do BNDES ao ministro da Fazenda, que chefia a política de superávites cada vez maiores para pagamento da dívida externa e pouco ou quase nada de recursos para o desenvolvimento econômico e social do País. Todas as críticas de Lessa foram feitas enquanto ainda ocupava o cargo, o que lhe brindou, segundo contou, com alguma coisa como setenta boatos de que estava demissionário. Afinal, saiu mesmo, vencendo a corrente de Antônio Palocci e perdendo a ala nacionalista e mais à esquerda do governo.

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Nesse mesmo sentido, voltando-se para a direita, pode-se interpretar o episódio da mudança no Ministério da Defesa, para o qual foi um liberal, o vice-presidente José Alencar. Terá outro sentido o aviso do assessor especial, Frei Betto, conhecido homem de esquerda, que anunciou que está deixando o governo?

Caiu também o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, mas aqui talvez se deva falar não em discordâncias políticas, mas em impropriedades. Assessores dele usaram dinheiro do BB para pagar ingressos para um "show" que visava arrecadar fundos para a construção de mais uma sede para o PT.

Se as mudanças no governo se fazem tendo ao fundo o objetivo de recompor as bases de sustentação da administração Lula, é certo que de uma perspectiva de governo de esquerda, socialista, partiu-se para um governo de concessão às imposições de mercado e agora se consolida como uma administração neoliberal.

A primeira reação foi ensaiada. Os esquerdistas Oscar Niemeyer, Chico Buarque de Holanda, Fábio Konder Comparato e o roqueiro Frejat, além de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil, Associação Brasileira de Imprensa e Central Única dos Trabalhadores, prepararam um manifesto de protesto contra a então provável demissão de Lessa. Não houve sequer tempo para entregá-lo. Lessa caiu antes.