O homem forte do governo Lula e do PT, José Dirceu, teve seu mandato de deputado federal por São Paulo cassado por 293 votos contra 192. Num quorum de 495 deputados, houve ainda um voto em branco, um nulo e oito abstenções. José Dirceu foi presidente do PT por cinco anos, dirigiu a campanha vitoriosa de Lula à Presidência da República e foi seu ministro-chefe da Casa Civil com duplas funções: as próprias do cargo e ainda a de superministro, com poderes para gerenciar os demais ministérios.
Com o estouro dos escândalos no governo federal, apontando promiscuidade do Poder Executivo com empresas privadas e arrecadação de recursos para comprar apoios de parlamentares e partidos, Dirceu foi acusado de ser o chefe de toda essa operação, apelidada de mensalão. Se por mensalão deve-se entender uma operação em que, mensalmente, eram pagos deputados, senadores e partidos, tal não aconteceu. Mas ficou provado que em períodos ora mais estreitos, ora mais largos e quase sempre com importâncias maiores, os apoios foram de fato comprados ou pelo menos o PT financiou as campanhas eleitorais daqueles que desejava compusessem a sua maioria político-parlamentar. Tal fato é ilegal e vicia o pleito. É antiético e, não fosse a decorrência do prazo de prescrição e a leniência de forças oposicionistas, poderia levar ao extremo de fechar as portas do PT e ao impeachment do presidente. Mas não se verificam condições políticas para tanto, embora seja muito provável que as legais existam.
José Dirceu, como Lula, usou em sua defesa a autoproclamação de inocência e a escusa de que de nada sabia. Em meio a um mar de lama, navegava tranqüilamente, mandando e desmandando, até que a pressão sobre ele exercida o obrigou a deixar a Casa Civil e reassumir seu posto na Câmara dos Deputados para se defender. E como se defendeu! Chegamos, neste espaço, a elogiar seu espírito de luta. Nunca cedeu aos que o atacavam, foi ao Supremo Tribunal Federal, à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, ao corpo a corpo com seus pares e à tribuna para se defender. E, agora cassado e excluído da vida pública por dez anos, promete continuar lutando para provar sua inocência.
Ainda recentemente, nessa peleja para manter-se no poder, fez com que seu grupo vencesse as eleições para a direção nacional do PT, elegendo presidente o deputado Ricardo Berzoini. Isso contra até a posição do presidente interino e ex-ministro Tarso Genro, que era contra a eleição do grupo de Dirceu, para renovar o partido de Lula, jogado no descrédito pelas comprovadas maracutaias.
Temos mais um ano de governo de Lula e sua possível candidatura à reeleição. Além dos maus resultados na economia que a queda do PIB comprova e a crise entre ministros, com destaque para a briga Dilma Rousseff versus Palocci, as forças situacionistas enfrentam, ainda, os desgastes da derrota com a defecção de José Dirceu. O ano que vem será crucial para o governo e para o País. Se não vier uma recuperação da economia e não houver um considerável afrouxamento na política fiscal, o governo Lula e as pretensões de reeleição do presidente estarão comprometidos. E, o que é pior, comprometido o futuro próximo do próprio País.