Os 98 votos dados ao deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), no primeiro escrutínio, tornou necessária a realização de segundo turno para chegar ao nome do novo presidente da Câmara. Ganhou o deputado petista Arlindo Chinaglia (SP), com 261 votos, ficando em segundo lugar o comunista alagoano Aldo Rebelo, eleito também por São Paulo, com 243 votos.
No segundo turno, razoável parcela de eleitores de Fruet migrou para o até então líder do governo na Casa, rompendo o acordo informal de votar em Rebelo. Assim, supondo-se que esses votos foram dados por tucanos encandeados pela luz atraente do poder, essa parcela do partido apenas se reencontrou com a posição assumida por conta própria, há algumas semanas numa reunião em Salvador, quando o líder Jutahy Magalhães Júnior anunciou a intenção de votar em Arlindo Chinaglia.
O PSDB dos tucanos emproados sentiu-se visivelmente desconfortável com a saia justa, e pela voz do ex-presidente FHC, da governadora gaúcha Yeda Crusius e do presidente nacional da legenda, senador Tasso Jereissati (CE), enquadrou com inegável ressentimento a decisão isolada de Jutahy, fazendo-o retroceder e selar o compromisso da bancada de votar em Fruet, àquela altura já candidato da chamada terceira via.
Contudo, no plano geral da campanha pela eleição do novo presidente da Câmara, tornou-se cada vez mais potente a força deslocada pela coalizão governista, sobretudo com a reunião das bancadas do PMDB e PT – ?o blocão? -, logo denominado por seu principal inspirador, o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), nesse momento, talvez, o mais hábil dentre todos os beneficiários do fisiologismo que deslustra a história recente do Congresso e, por extensão, a economia interna dos partidos.
Nas contas iniciais do presidente Lula, simplesmente soterradas pela coalizão PMDB-PT, o presidente Aldo Rebelo deveria ser reeleito, em primeiro lugar em apreço à estrita lealdade sempre hipotecada ao governo. Todavia, mesmo considerado um valor intrínseco da política, a lealdade não resistiu aos apelos da formação duma frente hegemônica para eleger agora o deputado Chinaglia e, em 2010, no viciado processo do ?é dando que se recebe?, um deputado do PMDB.
Fala-se abertamente que o presidente Lula terá agora a tranqüilidade para escalar o ministério, e negociar as nomeações dos postos mais cobiçados nas empresas estatais, invejável moeda de troca nesse panorama medíocre da gestão pública brasileira. Para garantir votos no Congresso, onde pelas artes de prestidigitação de figuras como Geddel Vieira Lima, o governo passou a ter maioria folgada até para mudar a Constituição, no mínimo, é um insulto à inteligência incorporar ao quotidiano da vida pública recursos que a tornam semelhante às pocilgas.
O próprio deputado Aldo Rebelo, dispensado de seu desvelo cívico de presidir pela segunda vez a Casa, é um dos nomes destacados da lista dos privilegiados que serão (re)compensados com um posto relevante no primeiríssimo escalão. Não foi com esse pensamento que 53 milhões de eleitores digitaram o número de Lula na urna eletrônica no passado dia 29 de outubro.
Não é lícito, nem justificado, passar à maioria do eleitorado brasileiro esse atestado de irresponsabilidade. O comportamento leviano e boçal dos eleitos é que deve causar preocupações e reações fundadas no direito a uma cidadania plena e amadurecida.
