“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”
(Rui Barbosa)Como vilã ou como bode expiatório, a polícia, no geral, carrega a pecha de ser a instituição mais corrupta do País. Pelo menos foi isso que candidatos aos diversos cargos mais salientaram como tema durante as últimas campanhas, quando o mote foi segurança pública e a corrupção policial. Teve candidato que até exagerou na dose, afirmando convictamente, que toda polícia é corrupta, sem respeitar os policiais honestos, por sinal a maioria, em se tratando do Paraná, que sacrificam o bem-estar da família para se dedicar ao trabalho, mesmo com inúmeras dificuldades. Demagogia ou não, a corrupção é um problema crucial enfrentado pela população brasileira, que deve ser amenizado a qualquer custo e não, simplesmente, como bandeira de campanha. Infelizmente não há como negar a existência dela na área da segurança pública, que, inclusive, é um dos fatores que mais influenciam no aumento da violência e da criminalidade. No Brasil, remonta ao tempo do coronelismo, quando os postos na polícia e no Judiciário eram freqüentemente outorgados pelas autoridades locais. Mas, se a polícia é corrupta, é porque os sistemas de governos, com raras exceções, também são corruptos. E para cada policial corrupto, sempre haverá alguém acima dele, também corrupto. Exemplo disso é o que tem acontecido em Estados como Rio de Janeiro e São Paulo, onde grandes traficantes conseguem comandar a criminalidade, mesmo estando dentro dos presídios de segurança máxima. E como conseguem armas e outros equipamentos sofisticados, senão através da corrupção, não só de policiais, mas também de outras pessoas influentes? E essas pessoas influentes estão em empresas privadas, órgãos públicos e outras entidades. E acontece tanto no Brasil, como em países considerados desenvolvidos, que costumam ditar normas de comportamento, como os EUA, mas que nos proporcionaram, recentemente, os escândalos de fraude e corrupção na WordCom e Enrom. No ranking dos países corruptos, o Brasil figura, segundo a última pesquisa, como 46.º colocado. “Dados esses tidos como reais, sem acerto” (sic).
Por que só a polícia aparece como corrupta?
Esta é uma resposta que, de repente, não seja tão difícil de responder. Por ser uma instituição que está diretamente relacionada com o público, responsável pela incolumidade e pelo respeito aos direitos do cidadão, torna-se mais “vulnerável” às críticas e acusações e em conseqüência, diante de dificuldades e de fraqueza psicológica, um ou outro policial acaba por se envolver com más companhias e torna-se corrupto.
O mau comportamento de alguns policiais envolvidos com a corrupção, é um problema antigo para o qual não existe fácil solução, mas que pode, aos poucos ser corrigido, com melhores salários e condições de trabalho, para evitar os toquistas, aqueles que conchavam com bandidos. Há jovens que gostam da idéia de seguir uma carreira policial, porque têm interesse em ajudar a fazer da sua comunidade um lugar melhor para se viver, e o seu idealismo deve ser recompensado. A única maneira de atrair os melhores candidatos é tornar competitivos os benefícios de ser policial e treiná-los constantemente para que possam fazer um trabalho eficiente e criar um plano de cargos e carreiras. Aqueles que se predispõem ao enriquecimento ilícito ou ao abuso de autoridade, sempre que possível, devem ser eliminados de início. No geral, a corrupção só prevalece enquanto houver impunidade, e esta, só será coibida a partir do momento em que a sociedade estiver organizada e com os seus principais pilares, a polícia e o Judiciário, fortes e dignos de confiança.
João Carlos da Costa é bacharel químico, professor, policial civil e jornalista. e-mail: jcarlos@pron.com.br