A polêmica dos preços e promoções

Algumas casas comerciais vêem o cliente-consumidor como massa de manobra, pouco inteligente e que talvez pode ser enganado sem o menor escrúpulo, quando divulgam descontos em seus artigos de 30, 40, 50, 60 e até 70%. Um comportamento questionável (felizmente, existem muitos existentes cujo lema não dispensa a lisura) que pode e deve ser apreciado neste espaço, que não representa o pensamento apenas de quem o preenche, mas especialmente a sociedade da qual participamos.

Partindo do princípio que ninguém (talvez alguém necessite fazê-lo) vende por menos do que pagou pela mercadoria ou produto, um desconto de 50% pressupõe que havia uma margem de lucro de 100%, o que é muito elevado para uma economia com uma inflação de um dígito ou pouco acima disto. Mas esta margem sobe para 150% e 230% para descontos promocionais oferecidos ao público de, respectivamente, 60% e 70%. Convenhamos, não existe muita seriedade em promoções do gênero, uma vez que ou os preços estavam muito altos ou os descontos foram calculados sobre preços “fabricados” para a ocasião da suposta venda promocional. O que faz crer, salvo melhor juízo, que o cliente é iludido em situações como estas.

Mas tem mais: algumas margens de lucro são aparentemente inexplicáveis. Veja-se por exemplo nas áreas de sorveterias, lanchonetes e restaurantes. Uma bola de sorvete pode custar de R$ 1,20, para não falar de sorveterias mais finas chamadas de “gelaterias”. Qual a margem de lucro? Situa-se na faixa de 400 a 700%. E por quanto é vendido um refrigerante? De R$ 1,20 a R$ 1,90, com um lucro de 300% a 600%. Um copo (300 ml) de suco de laranja, cujo quilo não custa mais de 30 ou 40 centavos, é vendido por R$ 1, R$ 1,50 ou até R$ 2, quando se sabe que as laranjas que entraram na composição do referido suco não custaram mais do que 20 centavos – lucro de 400% a 900%. Certamente, compreendemos a existência de outras despesas, próprias dos estabelecimentos, a serem adicionadas ao custo do suco e outros produtos. Mesmo assim as margens são elevadíssimas, e anunciam-se promoções especiais.

E querem outra amostra para ilustrar nosso tema de hoje? Trata-se da infalível porção de batatinhas fritas, que é vendida nas lanchonetes e restaurantes entre R$ 2,50 e R$ 3,50. Observe-se que nesta porção o peso da batata não passa de 250 gramas (e falamos na batata antes de ser frita). Considerando o preço do quilo a 90 centavos, a porção custaria pouco mais de 20 centavos. No entanto, é vendida por R$ 2,50 e até R$ 3,50 -uma margem entre 1.100% e 1.600%. E os folhetos e cartazes estampam a indefectível frase: “Promoção especial. Aproveite!” Aproveitar o quê? De fato, não se entende bem. Evidentemente, já foi dito, existem outros custos e insumos para os estabelecimentos, porém, nada explica tamanha desproporção entre o custo e os preços que são pagos pelos consumidores.

O público não vê transparência nas atitudes dos donos de certas casas. É o caso de algumas famosas redes de fast food que anunciam a venda de sanduíches com promoção especial: os sanduíches, com a promoção anunciada, custam exatamente o preço de uma refeição em bufês para público de classe média. E as lojas de confecções, como outras, também não fogem deste panorama, onde pontifica a incoerência (que pode até não ser dolosa, mas…). Acrescente-se que as citações neste artigo servem apenas como simples exemplos: todavia, é maior a abrangência de ramos de atividade em que se verificam coisas semelhantes. No entanto, persiste a controvérsia: as promoções são realmente promoções e os preços são justos? Não se fala aqui de todas as promoções e preços, mas de um certo número desse conjunto.

Entender o que se passa é difícil. Parece-nos que falta falar a verdade para os clientes e deixar de confundi-los com propaganda duvidosa. A alguns, falta participar com maior sinceridade da economia do País (e não falamos apenas do comércio, mas também da indústria, dos profissionais e, particularmente, daqueles que comandam o capital e são os seus donos). Enfim, falta respeitar o Código de Defesa do Consumidor, que não é um simples livro de adorno de biblioteca, mas é o atalaia do respeito devido àquele que gasta seus parcos reais e alimenta a economia.

Não seria correto concluir sem deixar de reconhecer o procedimento elogiável dos que fazem promoções sérias (estes não estão no alvo do presente artigo; portanto, a carapuça não lhes cabe) com a finalidade de fazer a legítima concorrência, ganhando menos por unidade e lucrando mais com o aumento do número de unidades vendidas, não pactuando com os preços exagerados (acima do preço real, com margens de lucro além do aceitável) praticados pelos que não valorizam a inteireza. Entretanto, implementar preços justos é também questão de cidadania.

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