Alguns professores, cansados de receber trabalhos escolares copiados de sites, vêm recomendando (e conseguindo) que suas escolas proíbam o uso da internet pelos alunos, como fonte para a realização de pesquisas escolares.
Não há dúvida de que a cópia de textos, seja ?mudando as palavras? ou pelo plágio direto, foi muito facilitada pela difusão dos meios digitais. Mas não nasceu com os computadores ou com a grande rede, como a geração pré-internet sabe muito bem.
Onde está o problema, então? Na internet em si mesma – ou na noção de ?pesquisa? que norteia aquela proibição?
Pesquisar deve ser algo mais do que a simples coleta de textos. Uma amiga que trabalha na Biblioteca Pública me disse que acha as pesquisas pela internet ótimas.
– ?Ao menos estão parando de recortar nossos livros com gilete!?
Outra professora é contrária à internet, porque ?quando copiavam dos livros, eles pelo menos tinham de ler e sempre ficava alguma coisa?.
As duas revelam uma opinião comum: pesquisar não passa de um trabalho manual, no qual os alunos recebem um tema da professora e saem por aí localizando textos e figuras para copiar. Triste redução de um dos fundamentos do procedimento científico…
Como fonte de informações, com certeza a internet é muito rica. A quantidade de informações hoje disponíveis na rede é maior do que qualquer outra fonte em toda a história da humanidade. É evidente que existe de tudo: bibliotecas clássicas inteiras, museus virtuais, publicações científicas, notícias de todo tipo lado a lado com bobagens e inutilidades, pornografia e violência.
Mais uma razão para que o trabalho educativo não seja focado nas informações em si mesmas, mas sim no processo de construção de significados no qual a informação é apenas um dos componentes.
Se nossos alunos estiverem preparados para tirar as informações de que necessitam, separando o importante do trivial, o essencial do superficial, o significativo do ilustrativo, não precisaremos nos preocupar se acessam ou deixam de acessar sites com conteúdos que julgamos inadequados ou perigosos. Afinal, são eles que devem decidir o que serve e o que devem descartar ou achamos que poderemos fazer isso por nossos alunos a vida toda?
Cada vez mais o papel do professor será o de auxiliar os alunos a fazer sentido das informações que recebem. Num mundo inundado de informações fragmentadas e desconexas, o professor encontra seu lugar nas atividades em que motiva e incentiva os alunos a construir pontes, ligações e hierarquias entre as informações, a contextualizá-las, a abordá-las segundo uma perspectiva ética, adicionando valores à miríade de registros e dados aos quais têm acesso pelos mais diversos meios.
Proibir o uso da internet é obscurantismo. A cópia e o plágio não são provocados pela existência da internet, mas pela ausência da curiosidade de saber ?por quê?, ?…e se?, ?quando e como?. Sem dúvida, não há pesquisa. Quem pede dados, receberá dados, não reflexões.
Professores: interditar não é o caminho. Precisamos recuperar a noção de pesquisa como investigação prazerosa e como descoberta permanente da vida.
Antônio Simão Neto (simao@interfacesonlime.com.br) é do Instituto Interfaces.