A onda protecionista

A onda protecionista instalou-se no planeta para emperrar o entendimento. Virou moda proteger tudo de todos. Esse sentimento global despertou a desconfiança entre parceiros históricos, além de alvejar a política expansionista de diversos países, ou seja, aumentou o fosso entre ricos e pobres. No comando desta operação está a cartilha mercantilista, doméstica, e voltada somente para as questões internas dos Estados Unidos, sob as ordens do presidente George W. Bush. A defesa em favor do protecionismo desencadeou um processo que, certamente, interferirá na contabilidade das nações atingidas. É a velha história de quem pode mais, chora menos.

Os negociadores brasileiros deixarão para o novo presidente da República as decisões mais importantes sobre a participação do País no comércio internacional, em 2003. Entre elas, o ingresso do Brasil na Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Capitaneada pelos Estados Unidos, a Alca terá Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 11,5 trilhões. Este clube poderoso reunirá, a partir de 2005, 34 nações, e uma nova proposta de tarifas alfandegárias entre o Mercosul e a União Européia. A atitude de não assumir compromissos que possam ser revistos pelo próximo governo é louvável e prudente.

As dificuldades, no entanto, estão entrincheiradas no campo diplomático, tanto na esfera política, quanto na econômica. Pelo nível das conversas, não há possibilidade de se chegar a qualquer tipo de acordo, pelo menos neste momento. Diante desta celeuma, o Brasil corre contra o tempo, também para melhorar os números da balança comercial, pois necessita aumentar as exportações para crescer este ano os 2% projetados pela equipe econômica. Assim, é imperativo que o País aumente suas vendas no exterior, para não ter suas contas contaminadas pelo desequilíbrio dos números.

Em nome de suas ineficientes indústrias siderúrgicas, os Estados Unidos impuseram uma nova ordem, com apoio do Poder Legislativo, e patrocinaram o retrocesso ao adotar as salvaguardas ao aço. O Brasil que o diga. A sobretaxa foi apenas o primeiro passo. Em seguida, o Congresso americano aprovou a Farm Bill, a lei que aumenta subsídios para a agricultura. Esta decisão apenas reforça a posição européia em favor de mais subsídios para seus produtos. Os Estados Unidos fazem estardalhaço a favor do livre comércio, desde que essa liberdade não interfira nos próprios negócios. É o protecionismo gerando mais protecionismo.

Em meio a esse cenário turbulento, o protecionismo internacional, seja em forma de ação, seja em forma de retaliação, contamina e danifica os índices da economia brasileira. O primeiro trimestre de 2002 configurou-se como desastroso para nossas exportações. A crise argentina contribuiu para o azedume desses números, fator que reduziu as perspectivas de crescimento do PIB para este ano. Portanto, conclui-se que somente o aumento das vendas do Brasil ao exterior impulsionará a produção industrial brasileira. E, nesse caso, o desafio é aqui e agora. Não podemos esperar pelo próximo presidente.

Júlio Sérgio de Souza Cardozo

é presidente da Ernst & Young Auditoria e Consultoria.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo