A onda de greves

Quando Lula militava como líder sindical, ninguém imaginaria que se sua insistência o levasse à Presidência da República teríamos greves. Ele foi eleito depois de, por inúmeras vezes, ter liderado movimentos reivindicatórios dos trabalhadores, inclusive com piquetes grevistas nas portas das fábricas. Uma vez presidente, seria de se esperar uma trégua; um entendimento mais fácil entre patrões e empregados, entre servidores públicos e o governo, livrando a administração dos inconvenientes que as greves provocam. Pareciam inimagináveis greves de servidores contra o próprio governo, sendo este dos trabalhadores.

Mas tudo isso vem acontecendo. Houve greve na Previdência; há greve na Justiça paulista e estoura uma enorme greve no setor bancário. Uma greve de advertência dos servidores da Vasp tende a apressar a reformulação do setor aeronáutico, obrigando o governo a decidir, de vez, se irá socorrê-lo ou não, com bilhões do BNDES.

Nenhuma trégua. No governo Lula as greves existem, tanto no serviço público quanto na atividade privada e, aos que lutaram ombro a ombro com o líder sindical Lula nas passeatas e piquetes, somam-se os seus opositores e quem já não mais acredita no socialismo petista.

Tais greves ocorrem quando se demonstra que há recuperação na economia nacional e sensível melhora no mercado de trabalho. Ainda há muito desemprego, mas números positivos anunciam que vagas estão sendo abertas. Nada de dez milhões de empregos novos, como prometido. Isso está muito distante, talvez no nível do impossível. Mas os números já são positivos. Positivas também as perspectivas de crescimento do PIB e, politicamente, o governo vai num sobe e desce, mas no momento recupera parte do seu prestígio.

Sobre as greves, o ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, disse que o governo segue e monitora a situação, mas não tem interesse em fazer intervenção. E acrescentou: “Deve haver o mínimo de interferência possível nas relações entre o capital e o trabalho”. Correto, mas o oposto do que seria de se esperar de um governo petista que pregava o socialismo e defendia de peito aberto as classes trabalhadoras. Tais declarações são liberais. Ou neoliberais, como diziam os petistas quando oposição ao governo FHC.

Por que essa situação tão paradoxal? Porque não houve nem manutenção nem recuperação dos salários. Pelo contrário, houve queda no seu valor e redução no poder de compra da população. O salário mínimo, que para nada vale, mas serve para achatar as aposentadorias e pensões, sofreu um aumento microscópico e os descontos do Imposto de Renda na fonte, não atualizados há muitos anos, foram mantidos no mesmo patamar, ajudando a subtrair dos trabalhadores uma fatia de seus salários. Assim, depois do problema do desemprego, a segunda grande reivindicação dos trabalhadores é a melhoria salarial. Paga-se mal tanto para os servidores públicos quanto para os empregados da iniciativa privada. E quando isso é demonstrado e apresentado como argumento incontestável nas críticas ao governo, são mostrados os ganhos nababescos de uma pequena minoria de privilegiados, como se isso representasse uma justificativa para o achatamento salarial da grande massa dos trabalhadores.

A frase jocosa é: “A gente ganha pouco, mas se diverte”. No momento, ganha-se pouco e os trabalhadores não se divertem. Nem pão, nem circo.

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