A morte da esperança

O PT chegou ao poder mais por apontar as políticas que batizou de neoliberais como responsáveis pelas dificuldades do povo brasileiro do que por apresentar soluções. Disse e repetiu muitas vezes como entendia que as coisas deveriam ser, mas raramente apresentou as fórmulas de como fazer. “A esperança é a última que morre”, diz o ditado popular. E quando Lula foi eleito, as esperanças nas velhas fórmulas de governar, mesmo as corretas, expiavam. A nação decidiu mudar tudo, absorvendo com entusiasmo um grupo misto de partidos e políticos com primazia do PT e do pensamento de esquerda.

O novo governo tem menos de um mês de existência. Pouco para vagidos, quanto mais para rugidos. Alguns de seus altos membros, entretanto, já fazem alarde com idéias de reformas profundas e de difícil execução, criando polêmicas e plantando discordâncias. O fato é que, pelo menos na área econômica, há convicção de que não é hora de novas políticas e não se devem apressar as coisas. O ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, em declarações ao respeitável jornal britânico Financial Times, avisou que o novo governo empreenderá ao menos um ano de austeridade na política econômica. Adiantou que, apesar dos sinais de queda da inflação, os juros básicos poderão permanecer em um patamar elevado por algum tempo. A taxa Selic de juros básicos está em nada menos de 25%. Na linguagem de oposição, parecia lícito combater essas elevadas taxas de juros, atribuindo-as à intenção do governo de dar altos ganhos aos bancos. Hoje, reconhecem que os juros altos estão ligados ao combate à inflação e à necessidade de captações.

“Nós não vamos apressar as coisas. Nós podemos iniciar um processo bem ordenado de recuperação”, afirma o novo ministro. Palocci rejeita o uso de “mecanismos artificiais de financiamento público” com o objetivo de estimular o consumo na população mais pobre. Seriam juros baixos para aumento do consumo, com o mal colateral e às vezes mortal da inflação.

Ele é cauteloso. “Gerando as condições corretas, as forças do mercado aumentarão o lucro e a produtividade”, defendeu na entrevista ao jornal inglês.

Na oportunidade, Antônio Palocci pregou a total abertura do Brasil ao mercado externo e mecanismos de regulação internacionais para atrair investimentos estrangeiros. “Nós queremos navegar os mares abertos do mercado global”, afirmou.

Ele prioriza as reformas da Previdência e a tributária. Sobre as contestações à sua política econômica dentro do próprio PT, igual à que chamavam de neoliberal de forma pejorativa, assegurou: “Não há nada que eu diga que o presidente não saiba. Ele está inteiramente consciente de que o desenvolvimento e a inclusão social pressupõem estabilidade e a sustentabilidade da economia”. E acrescentou: “Nós estamos apenas dizendo que há um longo e difícil caminho até chegar lá”. Aqui reside o perigo. É evidente que o ministro da Fazenda tem razão, mas o problema é que, sendo a esperança a última que morre, e estava agonizando quando Lula foi eleito, as expectativas de soluções são de urgência. Fome zero, mais habitações, terras para os sem-terras, empregos, salários melhores, aposentadorias decentes para os trabalhadores, assistência adequada à saúde, segurança pública, enfim, os problemas que já estavam insuportáveis, será que o povo agüenta mais um ano até que comecem a ser solucionados?

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