A moral da identificação

Emoção pressupõe identificação. E identificação pressupõe proximidade, física ou emocional. Identificamo-nos, portanto, com fatos que evocam o que somos ou gostaríamos de ser. No atentado contra as torres gêmeas de Nova York, mais do que concreto e aço, vimos ruir diante dos nossos olhos um dos maiores símbolos de sonho (e poder) do mundo ocidental. Por isso nos emocionamos com a tragédia daquelas vítimas. No caso das tsunamis, embora não houvesse ali a representação de um sonho, a nossa comoção se deu porque conseguimos nos imaginar sendo tragados por uma onda gigantesca. Afinal, isso poderia ter acontecido em qualquer praia do mundo.

Por outro lado, quando uma aldeia qualquer na África é inteira e brutalmente assassinada por uma outra etnia, não conseguimos nos emocionar profundamente. Não há identificação, sobretudo porque é um fato distante da nossa realidade (física e emocional). Não dá pra pensar: nossa, poderia ter acontecido comigo! Daí a superficialidade, e até mesmo frieza, com que recebemos esse tipo de notícia.

Surge a pergunta: a identificação é um comportamento de fundo moral? Penso que não, pois enquanto a moral é feita de regras tipicamente humanas e variáveis, a identificação é movida apenas pelo básico e imutável desejo de nos mantermos vivos e fortes. Ou seja, ela é apenas um sentimento reflexo da natureza. E a natureza, como todos sabemos, não é moral nem imoral; ela simplesmente é. Aliás, nada mais antinatural do que a moral.

Djalma Filho é advogado – djalmafilho68@uol.com.br

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