A mesma linguagem

Quem ouve discursos de Lula e de Alckmin verá que há diferenças essenciais em suas oratórias. O primeiro tem uma linguagem popular, se não populista. É um orador capaz de aproximar-se da linguagem do povo, não faltando em seus discursos sequer as piadas e as comparações com o futebol, o esporte das multidões. Alckmin é mais refinado, embora ferino em suas críticas e preciso na formulação de suas idéias.

Abstraídos desses badulaques que facilitam o diálogo dos candidatos com o eleitorado, seus discursos são iguais. Se não nas críticas que Lula faz aos governos passados e Alckmin ao governo do próprio Lula, pelo menos na formulação de idéias e programas.

Logo depois de eleito, o atual presidente da República continuou, rebatizou ou imitou programas de seu antecessor, notadamente os de natureza social. Agora é Alckmin que, ao formular suas primeiras propostas e promessas que diz cumprirá se eleito, dá continuidade aos mesmos programas. Ele incorpora teses que Lula abraça e já fala em programas, em seu hipotético governo, como o Bolsa Família de Lula, de alguma forma herança renomeada de outro de FHC.

Fica-se a imaginar que os governos são todos iguais. Ou, como na expressão duramente crítica do povo ?mudam as moscas, mas o monte é sempre o mesmo?. No caso, o monte é que vai perdurar, mudando as moscas. Não há semelhanças de origem política entre Lula e seus homens e Alckmin e sua ?entourage?. Há apropriação pelo candidato oposicionista de programas caros a Lula e que já foram do apreço de FHC. Isso justifica-se e não se trata de cópia com intenção eleitoreira. Seja reeleito o atual presidente ou eleito o ex-governador de São Paulo como seu sucessor, os mais graves problemas nacionais continuam os mesmos e, há tanto tempo, que até parecem insolúveis.

A fome, a miséria, a insegurança, o problema da educação, a necessidade de geração de empregos e outros desafios deverão ser enfrentados ou pelo menos fazer parte do ideário de campanha de quem quer que se atreva candidatar-se à Presidência da República. São dramas que o povo deseja ver resolvidos e até chegou a apostar que o seriam, quando elegeu Lula acreditando em suas promessas de campanha. Não existem variadas soluções para os mesmos problemas nem novos problemas que possam substituir as grandes preocupações de sempre da Nação. A escolha do futuro presidente tem de ser resultante do exame da personalidade, capacidade e forças de apoio de cada um, pois prometer, todos prometerão exatamente a mesma coisa.

A escolha será de pessoas e não de partidos, ideologias e programas com soluções planejadas.

Fica claro que será este o caminho, embora não seja o melhor, agora que o Tribunal Superior Eleitoral, depois de ter ditado uma verticalização pura nas eleições, voltou atrás, admitindo nos estados coligações diversas daquelas que se fizerem no plano federal. E dessa salada de coligações com candidatos repetindo as mesmas promessas, mesmo que em linguagens diferentes, dá para temer por mais alguns anos perdidos na trilha do desenvolvimento econômico, político e social do País.

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