Viver momentos mágicos é um desejo acalentado por muitos indivíduos. Se no senso comum a magia significa encanto e fascinação, o mesmo não é traduzido por autores como Tylor, Frazer, Lechmann. Tylor associa a demonologia (teoria dos demônios) mágica ao animismo primitivo. Em sua obra O ramo de ouro, Frazer defende as leis de similaridade e de contigüidade da qual surge a hipótese de que a magia torna-se a primeira forma de pensamento humano. Lechmann define a magia como a prática das superstições ou crenças que não são religiosas nem científicas.
O antropólogo Marcel Mauss diz que há um defeito comum nos trabalhos desses autores. Como deixaram de lado o estudo das práticas que envolvem encantamentos e ritos em que agem demônios, é provável que não tenham estabelecido uma noção científica de conjunto. Mediante a falta, Mauss passa a estudar em todos os fenômenos mágicos heterogênos uma espécie de lei. Ele analisa a magia nas sociedades primitivas da Austrália, Melanésia, Antigo México, Índia, entre outras.
Elementos da magia.
Mauss chama a atenção para os seguintes: a pessoa do mágico; os atos dele e as representações (as idéias que ele divulga).
O mágico assume os traços dos heróis dos contos orais literários. Ele tem poderes sobre os outros e sobre si. Tem consciência de ser um possuído e conhece o espírito que o possui. Essa crença dele é universal. É a opinião que cria o mágico e por ela tudo é possível. Não há segredos na natureza.
Os atos do mágico se realizam em lugares próprios. São os ritos que só ocorrem no momento e no local cuidadosamente determinado, normalmente é o momento do sacrifício ou da cerimônia mágica.
As representações envolvem tempos e componentes diversos. Primeiramente, o mágico e seus fiéis pensam em seus ritos no contexto dos efeitos gerais da magia. Em segundo lugar, as coisas vêm e vão embora. Em terceiro lugar, um encantamento cria um tipo de casamento místico entre os demônios e as imagens destinados a representá-los. Se o rito é uma espécie de linguagem é porque ele traduz uma idéia. Todo ato mágico comporta a representação de seu efeito.
Mauss diz que na magia existem forças coletivas que agem como na religião. Distingue a crença, o fenômeno mágico, o mana, os estados coletivos e as forças coletivas.
A crença
A magia é definida como objeto de crença. Crer na magia não é muito diferente do que crer na ciência, mas a crença na magia precede a experiência. Só se procura o mágico porque já se acredita nele.
O fenômeno mágico engloba: as formulas de simpatia, de simbolismos, do poder do mágico e da cerimônia; a noção de propriedade, que inclui sacrifícios, bênçãos e forças mágicas; a noção de demônios, que diz tudo se passar em condições em que a presença dos demônios seja possível.
O mana significa o que produz o valor das coisas e das pessoas, valor mágico, valor religioso e valor social. São os nomes dos especialistas que cumprem a função do mágico. É a força do rito. É dado como algo misterioso. A respeito do poder mânico, Mauss considera que em toda parte existiu uma noção que envolve o poder mágico.
Os estados coletivos e as forças coletivas produzem a mágica. Para que exista a mágica é preciso a presença da sociedade. Ela impõe a idéia dos efeitos necessários como os tabus mágicos.
Mauss conclui que a magia é um fenômeno social. Mesmo que pensemos estar distante dela, atualmente, estamos próximos, amarrados a ela, pelas idéias de sorte e azar.
Zélia Maria Bonamigo
é jornalista, mestranda em Antropologia Social pela UFPR, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. E-mail: zeliabonamigo@uol.com.br