Durante a ditadura militar, dois filhos presos, torturados e exilados. Carioca, 83 anos, Iramaya Benjamin viu sua vida se transformar na luta pela anistia, ou seja, o perdão aos presos políticos do período. Depois do exílio do primeiro filho, e a prisão por longos cinco anos do mais novo, apesar dele ser menor de 18 anos, Iramaya formou um grupo de parentes de presos para organizar o Comitê Brasileiro pela Anistia.
À frente do comitê, ela liderou passeatas, manifestações e realizou palestras contra a ditadura. "Queríamos que o povo ficasse sabendo o que era o comitê e soubessem que a causa da anistia era a causa do povo brasileiro, para que o povo saísse daquele regime de escuridão", conta.
Além da anistia, o comitê lutava pelo fim da lei de segurança nacional e da lei que exigia atestado de ideologia política para admissão em empregos. Pedia ainda que os filhos de exilados políticos pudessem obter passaportes. "Dávamos também apoio aos presos políticos por que muitos de nós tínhamos filhos presos", completa Iramaya Benjamin.
Casada com um coronel do exército reformado, Iramaya conta que não era bem vista pelos militares e fingia não perceber para continuar seu trabalho. "Para mim, o que estava em jogo era o bem estar, a felicidade dos meus filhos e, de quebra, a minha mesmo por que eu não tinha como ser feliz sabendo que meus filhos estavam no exterior, sem dinheiro e sem emprego".
Ao assumir a presidência da República em 1979, João Baptista Figueiredo não admitia falar em anistia. O comitê continuou com seus trabalhos. "No último dia de julho o Figueiredo assinou a Lei da Anistia. As mães foram todas ao aeroporto com bandeiras, faixas e palavras de ordem. Foi um movimento muito bonito", conta Iramaya.
Hoje (8), Iramaya Benjamin é uma das homenageadas pela Câmara dos Deputados com o prêmio Carlota Pereira de Queirós, na categoria direitos humanos. O prêmio, instituído em 2003, é destinado a mulheres atuantes no exercício da cidadania e na defesa dos direitos da mulher nas áreas de política, cultura, saúde, movimento social e direitos humanos. As demais homenageadas serão Janete Capiberibe, Daniela Mercury, Albertina Takiuti e Irmã Dolores.
