A pessoa que lê exercita o cérebro, alimenta a intelectualidade, enriquece a linguagem, expande sua visão e compreensão das coisas e do mundo. Mais ainda, abre horizontes para raciocinar, contextualizar e argumentar. A leitura é preestabelecimento para desenvolver o País e melhorar a cidadania. A leitura de textos e imagens é fundamental para qualquer área do conhecimento e profissão. Não adianta dispor de computador, internet e outras tecnologias, se o cidadão não compreende criticamente o que lê.
O baixo nível de leitura é resultado de um conjunto de fatores: falta de estímulo e incentivo da escola, dos professores, dos pais e da sociedade. O professor sozinho não dá conta do recado, mesmo porque as crianças e os jovens estudantes passam cerca de 20 horas diárias fora da escola, submetidos ao meio. Não são só os pobres que não lêem, mas também a classe média e os ricos. Leitura é costume, hábito e gosto.
Não defendo que os textos sejam, necessariamente, herméticos, fechados, difíceis, mas textos muito fáceis acomodam o leitor, principalmente a criança e o adolescente. Hoje, até os livros dos professores já vêm respondidos e preenchidos. Isso é prejudicial. A pedagogia da facilidade rebaixa a cidadania.
Não há pesquisas que mostrem o grau de compreensão dos leitores. Há pesquisas sobre quantidade de livros, mas não há sobre o domínio de vocabulário que o leitor médio tem para entender o texto. Há suposição de que determinadas palavras são difíceis. Então, parte-se para a simplificação. Isso é desastroso.
ONG ligada à Petrobras, denominada Leia Brasil, desenvolve trabalho interessante de formação de leitores, patrocínio de cursos de capacitação de agentes de leitura, bibliotecas volantes em caminhões, formação de bibliotecas fixas. Ainda, edita a revista Leituras Compartilhadas, escrita por acadêmicos, psicanalistas, jornalistas e outras pessoas. Esta e tantas outras iniciativas interessantes estão surgindo pelo Brasil todo. Quando a sociedade apóia, o trabalho torna-se produtivo, positivo e coerente.
Em 2002, o governo patrocinou 61 milhões de livros de literatura, distribuídos às escolas públicas, gratuitamente, para os alunos do Ensino Fundamental levarem para suas casas. Neste ano, a pretensão é triplicar essa quantidade, atitude elogiável, também porque a seleção das obras distribuídas é de alto nível. Este é indício de que a população não tem condições de resolver a questão sozinha. Comparado à Europa, o livro brasileiro é barato, mas o problema está no salário baixo dos profissionais. Para ajudar a superar certas barreiras, tem havido esforços visíveis por parte das secretarias municipais e estaduais de Educação. Elas fazem trabalho de qualidade no que diz respeito às matérias básicas.
O sistema de ensino brasileiro precisa passar por nova avaliação. Os resultados devem apontar para a necessidade de reformulação. Quando se compara o Brasil com países da Europa e América do Norte, os índices educacionais brasileiros apontam para baixo. O Brasil é um dos países cujas estatísticas apontam menor número de livros lidos per capita ao ano. De certa forma, a produção editorial e a vendagem são inexpressivas.
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Marta Morais da Costa é escritora, professora e diretora da área de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.