A velha inflação dá sinais de renascimento. Nem tanto quanto aquela de antes do Plano Real, mas muito superior à que sonha a vã filosofia de empedernidos situacionistas. Aqueles que acreditam em Lula e no ministro Palocci, o que não é ter fé demais, mas não autoriza crer que façam milagres. Não há dúvidas de que o presidente e seu principal homem da área econômica são bem-intencionados e corajosos, ousando inclusive sonhar com um socialismo que nasça de uma política econômica neoliberal, tão reacionária ou até mais do que a que condenavam nos governos anteriores, especialmente no de FHC.
A inflação que está pondo a cabeça para fora tem como causas principais os preços administrados, aqueles que o governo dita ou condiciona de acordo com sua vontade. Não são preços de mercado, salvo alguns, mas preços marcados pelo carimbo do poder público. Exemplo eloqüente: o transporte público.
Há no povo brasileiro a permanente e quase sempre falsa impressão de que o governo mente quando revela os índices de inflação. Escapa ao entendimento comum que há uma inflação para cada pessoa, para cada família, para cada segmento da sociedade, para cada faixa etária, para cada classe. Há a inflação que atinge o grã-fino, quando sobe o preço do uísque e do champanhe e, de lambuja, o caviar começa a custar o olho da cara. Há a inflação do pobre operário, que gasta a sola dos sapatos, ou das sandálias, para ir ao trabalho, porque não tem dinheiro nem para o ônibus, cuja tarifa está subindo. Há a inflação da classe média, que é sentida no supermercado, às vezes no posto de gasolina e nos planos de saúde.
E agora, em curta notícia, revela a Fundação Getúlio Vargas, através do IPC-3I (Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade), que existe uma velha inflação dos velhos, daqueles cidadãos, homens e mulheres, da terceira idade.
Nos últimos onze anos, a inflação para os idosos foi bem superior à das demais faixas etárias. Ser velho e pobre já é uma bruta sacanagem, só amainada pelo fato de que possivelmente se está mais próximo do andar de cima, onde se acredita que vive Deus. O velhos de hoje são cada vez mais numerosos que os do passado. E, no passado, a maioria não tinha acesso ao ensino profissionalizante e muito menos ao superior. Por isso, a maioria dos idosos ganha muito pouco. Quando ganha. E ganha uma aposentadoria do INSS, que em geral é de um salário mínimo, e, absurdamente, há casos que um pouco menos. Se ganha algo mais razoável, vem o governo e exige que contribua para manter o sistema previdenciário, mesmo estando aposentado.
Esse cidadão da terceira idade gasta mais em remédios, não tem, porque não pode pagar, planos de saúde e anda de ônibus, com as passagens subindo, quando as pernas não agüentam mais as caminhadas.
Justo que a inflação o atingisse menos. Mas revela a Fundação Getúlio Vargas que nos últimos onze anos, de 1994 a 2004, a inflação dos idosos subiu 226,14%. E a dos não idosos 176,50%.
