A igreja e a política

No Brasil, há separação entre a igreja e o Estado. Separação da Igreja Católica Apostólica Romana, pois é evidente que outras religiões de menor porte e mais ousadas interferem e participam da política e, indiretamente, do Estado. Como a Igreja Católica é majoritária, embora muitas outras confissões somadas formem um contingente de fiéis bastante expressivo e não sejam poucos os católicos que também se dizem simpatizantes de outros credos, a separação ainda se lhe credita, embora aqui e ali haja sempre algum clérigo a apoiar este ou aquele candidato, como cidadão, mas sem desvestir a batina. É natural, pois as funções clericais não despem o cidadão de suas convicções políticas.

Louvável a posição atual da igreja, ao contrário do que acontecia há décadas passadas, que tem orientado o eleitorado cívica e moralmente, aconselhando a escolha consciente e a vigilância permanente. Aí está um papel correto que cabe à igreja.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), através do seu conselho permanente, está preparando uma cartilha com o objetivo de orientar os católicos para as eleições deste ano. Nela, segundo se adianta, há um apelo para que os católicos se envolvam de forma ativa na política. Isso não significa que devem integrar partidos políticos ou participar da disputa por cargos públicos. Mas que votem de maneira mais consciente, analisando os candidatos e seus programas e repudiando os corruptos. Aí entram, como alvo de repúdio, desde os corruptos mais grosseiros, aqueles que oferecem churrasco e transporte para os eleitores, quando não dinheiro mesmo, ou trocam votos por dentaduras, cadeiras de rodas e outros benefícios de benemerência. São lobos em pele de cordeiro que não fazem o bem, mas usam o que é o bem para eternizar-se nos cargos políticos onde podem fazer o mal ao eleitorado e o bem a si mesmos e aos seus grupos.

Os bispos aconselham também que os católicos repudiem os que se envolveram com o uso irregular de recursos de campanha, no chamado esquema do caixa 2. E, aí, entram tanto atuais governistas quanto oposicionistas, com honrosas exceções.

É preciso que os eleitores, por dever cívico, e os que são católicos, também por dever moral ligado aos ditames da igreja, não só selecionem seus candidatos, repudiem os corruptos e os atos de corrupção com que tentam comprar seus votos, como acompanhem de perto o exercício dos mandatos por aqueles em quem votarem. Há muitos políticos que, uma vez eleitos, desvestem sua pele de cordeiro e se revelam lobos famintos a devorar o que deveriam reservar e preservar para o povo.

De acordo com o secretário-geral da CNBB, dom Odilo Scherer, a esperança dos bispos é que o destaque dado aos casos de corrupção em 2005, com as investigações e discussões nas CPIs e a intensa cobertura dos meios de divulgação, contribuam para o amadurecimento do eleitorado brasileiro. Os fatos revelados em 2005 não merecem indulgência. Têm de ser lembrados e os responsáveis afastados da política para todo o sempre, pertençam a que partido pertencerem. Corruptos há no governo e na oposição e todos devem merecer o repúdio dos homens de bem.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo