A hora da verdade

O senador Renan Calheiros teve arquivado o segundo processo contra ele movido no Conselho de Ética. O primeiro perdeu, mas acabou absolvido no plenário do Senado, onde o voto secreto esconde inconfessáveis alianças. Desta vez, o processo arquivado, que teve como relator o senador João Pedro, do PT amazonense, tratava de supostas interferências de Calheiros em favor de uma fábrica de cerveja que devia uns R$ 100 milhões ao INSS. Mas, coincidentemente, foi compradora de uma cervejaria de propriedade de um irmão de Renan, deputado federal, aliás recém-absolvido pela Câmara. Os senadores do DEM e do PSDB se abstiveram de votar. Consideraram que, inocente ou culpado, o presidente do Senado é, de qualquer forma, responsável por jogar a Casa na lama, comprometendo seu bom nome, o que já seria falta de ética. ?Nós resolvemos nos abster por uma razão bem simples. Se me perguntarem se foi o senador Renan que tocou fogo em Roma ou foi responsável por Auschwitz, eu sei que não foi. Mas a crise a que está submetido o Senado nos dá a sensação de que houve quebra de decoro. Mas entendo que o relatório é sério, substancioso. Por isso, optamos pela abstenção?, explicou o líder do PSDB, Arthur Virgílio. O parecer do senador petista estava de fato bem fundamentado, mostrando que mal fundamentada estava a denúncia. Faltavam provas cabais da ?truta? da cerveja e, nesses casos, não é aceitável condenar, mesmo que haja convicção de que o réu tem culpa em cartório. Por isso, até mesmo outros senadores, mesmo aliados do governo como Renan, mas que se postam contra sua atuação, acabaram votando a favor do relatório e brindando o presidente do Senado com uma absolvição por falta de provas, o que não significa inocência.

Mas Renan Calheiros e sua tropa de choque nem tiveram tempo de comemorar, numa cervejada, a vitória obtida. Pouco depois, novamente a Comissão de Ética apreciava a terceira denúncia contra o presidente do Senado. Desta vez foi porque ele, usando ?laranjas?, comprou um grupo de empresas de comunicação em Alagoas. Desta feita, o relator foi o enérgico senador amazonense Jefferson Peres, cujo nome faz tremerem os que têm culpa em cartório. Ele elaborou um parecer irrepreensível, provando a existência de fundadas razões para acreditar que o negócio camuflado ocorreu. E ainda com o concurso de assessores e gente da caterva de Renan Calheiros.

O resultado da votação foi esmagador. Renan foi condenado por onze votos a apenas três, os mesmos de sempre, de senadores que funcionam como seus fantoches, defendendo-o mesmo quando até correligionários do presidente do Senado dele duvidam ou abertamente o acusam. Esta condenação não indica o final da novela, que pode ser contrário ao que decidiu o Conselho de Ética. A decisão final cabe ao plenário, onde recende um forte cheiro de pizza. Lá, os grupelhos políticos, os interesses inconfessáveis, a interferência do Poder Executivo e o troca-troca de favores podem levar à absolvição, mesmo que sobrem razões para condenação. Assim aconteceu com a maioria dos mensaleiros que, para felicidade da nação, hoje são réus no Supremo Tribunal Federal. E já há notícias de enrubescer. Aliados de Renan Calheiros estão se articulando para evitar que a condenação do Conselho de Ética se repita no plenário. Uma turma de senadores usa a votação da CPMF para ameaçar: ou os situacionistas, em peso, votam contra a cassação de Renan, ou eles derrubam a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, um montão de dinheiro do povo que o governo quer a qualquer custo. A luta será dura e, de qualquer forma, suja.

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