A língua é o chicote do traseiro. O ditado é chulo, mas vale para as novas atitudes da Rede Globo, que quer por que quer bagunçar mais uma vez o futebol brasileiro. Em decadência técnica, estética e de prestígio, a Vênus Platinada mandou a campo o diretor da Globo Esportes (formada para a compra e venda de direitos de transmissões esportivas), Marcelo Campos Pinto, decretar a falência do esporte bretão nestas plagas devido à fórmula de pontos corridos. A mesma que a própria emissora impôs aos clubes para impedir suas concorrentes de se apoderarem da principal competição esportiva do País.
Os argumentos foram os mais próximos do absurdo. Dizer que o público não tem cultura para aceitar o atual regulamento é burrice porque esta é a primeira vez e os torcedores ainda estão se familiarizando e descobrindo suas possibilidades. Falar do público nos estádios é confissão de culpa, afinal alguns horários são determinados pela própria emissora (teve jogo às 21h45, 18 horas, 19 horas e até as 9 horas) e ninguém é idiota, nem claque para ficar à mercê de uma grade de programação.
O pior de tudo é dizer que a Série B é um sucesso. Se é tudo isso mesmo e os estádios estão lotados, como eles dizem (o que é mentira, basta conferir os borderôs da CBF), por que a Rede Globo não mostrou nenhum jogo até agora? Por que existe uma briga para se chegar à Série A? Será que Mogi Mirim x São Raimundo é melhor do que Cruzeiro x Santos? Não! Claro que não!
O que a Globo conseguiu com todo esse barulho em torno da fórmula do campeonato foi mostrar seu descontentamento com os baixos índices de audiência. A dita emissora só está esperneando (ela pagou pelo direito de transmissão e os clubes não podem vender o direito de organização) porque Corinthians e Flamengo estão em crise. Teoricamente, essas duas equipes têm mais torcedores e dão mais audiência. No entanto, o brasileiro não assiste apenas ao seu próprio time do coração e também gosta de assistir a um bom espetáculo. Isso está provado!
O erro global é insistir em mostrar os fiascos de corintianos e flamenguistas em detrimento de um bom futebol. É óbvio, que assim, que a audiência cai. A solução para isso é mostrar quem está jogando bem e ganhando e não, simplesmente, mudar toda a estrutura de um esporte como se fosse o cenário de um programa de auditório.
A Globo sabe disso e ainda não aprendeu a lição. Em 1999, a emissora não quis transmitir a final da Copa do Brasil, entre Botafogo e Juventude, porque as equipes não tinham “apelo popular”. Apostando no Domingão do Faustão, ficou em segundo lugar no Ibope com apenas 18 pontos. O SBT cravou o primeiro lugar com 20 (com Domingo Legal) enquanto a Bandeirantes dobrou sua audiência média, transmitindo a partida, e garantiu o terceiro posto com 15 pontos. Se tivesse sido mais ousada e transmitido a partida, a Globo faria, no mínimo, 30 pontos e manteria sua aura.
Pelo jeito, ela ainda prefere a teimosia que ajudar o esporte brasileiro a crescer de verdade e não apenas no oba-oba de competições duvidosas. Menos mal que os clubes não estão dando muito ouvido a essas propostas, que ajudariam a bagunçar ainda mais o futebol nativo. Até a CBF já mandou avisar que no ano que vem a fórmula será mantida, além de transformar também a Série B em pontos corridos. Como se vê, o sr. Pinto pregou no deserto. Sorte a nossa.
Rodrigo Sell (esportes@parana-online.com.br) é repórter de Esportes em O Estado.