A globalização mundial (I)

Especialmente a partir da segunda metade do século passado vem o mundo assistindo a um verdadeiro espetáculo [em sentido amplo] que se convencionou chamar de globalização ou universalização, que nada mais é do que efetivo processo de integração das nações, no campo econômico. A atual posição de países asiáticos, especialmente a China, na esfera econômica, também já causa preocupação a países de primeiro mundo e também aos periféricos, ou adotando a terminologia que se vem adotando, emergentes. Mas desde logo é preciso restar perfeitamente compreendido que a globalização não pode ser considerada como surgida no século XX. Não. Desde os tempos dos grandes descobrimentos, especialmente lusitanos e espanhóis, o mundo vive um verdadeiro processo de globalização. O que se vem sucedendo mais recentemente, é a abertura das portas das nações ao mundo. Em outras palavras, inexistem fronteiras comerciais, como facilmente percebido. Mas impede destacar que, na onda da globalização mundial, com a inserção de entes transnacionais no Brasil, por exemplo, houve grandes e significativos reflexos em relação ao homem, no que se refere ao convívio social, comercial etc., assim como a própria sociedade como um todo foi atingida diretamente pela nova forma de proceder. Primeiramente, tem-se como certo que a globalização é um processo de integração comercial, mas também fez surgir o que Niklas Luhmann entende como sociedade mundial(1). Torna-se mais do que patente o fato de que tal processo faz com que haja maior competição de mercado, buscando maior produtividade e circulação de bens, mas também não menos certo que há reflexo negativos relação a um ser: o homem. A grande revolução tecnológica [nas áreas das comunicações e eletrônica, por exemplo], fez com que surgisse o que se denomina e aqui se incorpora, que é a cultura de massa. Ora, tal cultura de massa faz parte inequivocamente de um processo digital não menos globalizante que se instalou também no Brasil. Ela, a cultura de massa, está ligada diretamente à sociedade do consumo, que por sua vez dá azo à sociedade do espetáculo, esmiuçada de forma direta por Guy Debord. Então, necessário perceber que há um fenômeno desenfreado, sem limites, pelo que se percebe hodiernamente. Esclarece de forma bastante clara Paulo Bonavides: a globalização é ainda um jogo sem regras; uma partida disputada sem arbitragem, onde só os gigantes, os grandes quadros da economia mundial, auferem as maiores vantagens e padecem os menores sacrifícios(2). Sabe-se que as ações chinesas, recentemente, tiveram a maior queda percentual desde 1997 [9%], o que causou aflição mundial. Também é mais do que consabido o fato seguinte: os acontecimentos econômicos vividos por este ou aquele país certamente espraiaram noutros, tal como ocorreu com a elevação vertiginosa do valor da moeda norte-americana em relação à brasileira, no final de 2002. Não por acaso, inúmeros empresas tiveram decretada sua falência, considerando-se tal fato concreto: a moeda dos Estados Unidos chegou a custar quase R$4,00, e aí não havia empresário que resistisse. O pequeno parêntesis ora feito não é o principal motivo do presente escrito. As revoluções advindas de carona com a globalização, revoluções essas no sentido cultural, social etc., também foram permitidas pelo próprio homem. As facilitações quanto a telefonia, mensagens virtuais, dentre outras, para não se tornar enfadonho, demonstram o momento de transição: o homem cria, mas o homem não sabe usar. A utilização, por exemplo, da rede mundial de computadores, é algo que poderia muito bem ocorrer só e tão-só de forma positiva. Mas não é o aquilo que se observa diariamente. O homem se vem tornando refém dele mesmo… A realidade social pode não ser exatamente aquela esperada, mas colocado tudo na ponta do lápis, é isso facilmente percebível. O homem desempenha papel mais do que ativo na era da informação, na era do espetáculo.

A integração pretendida na esfera comercial [que de fato já ocorreu e vem ocorrendo cada vez mais] também abriu as portas para a era digital, a era do consumo exacerbado, a era das relações virtuais, a era do esquecimento do outro, a era do individualismo exacerbado, a era do crer sem avaliar(3). É sempre oportuno reler os ensinamentos de Lucius Annaeus Sêneca, pois afirma que devemos absolutamente evitar seguir conforme o uso das ovelhas a grei que nos precedem, dirigindo-nos para onde vão todos, mas nós nos acautelemos. Nada é pior que escutar a fala da sociedade considerando justo o que a maioria aprova, e imitar o modelo de comportamento da massa, vivendo não segundo a razão, mas pelo conformismo. É este o motivo das aglomerações de pessoas que se esmagam uns aos outros(4). Tais ensinamentos caem bem, encaixam-se como luva a fim de que haja reflexão neste momento globalizante.

Notas:

(1)  Sociologia do Direito II. Rio de Janeiro:Edições Tempo Brasileiro, 1985, p. 157.

(2)  Do País Constitucional ao País Neocolonial. A Derrubada da Constituição e a Recolonização pelo Golpe de Estado Institucional. 3.ª edição. São Paulo:Malheiros Editores, 2004, p. 139.

(3)  A Vida Feliz. Campinas:Pontes Editores, 1991, p. 24.

(4)  Op. cit., p. 24.

Carlos Roberto Claro é professor assistente de Direito Societário e Falimentar do Centro Universitário Curitiba, mestrando em Direito Empresarial pela mesma instituição de ensino, e membro do American Bankruptcy Institute (USA).

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