Começa amanhã, no Vaticano, onde estão concentradas as atenções do mundo, a reunião do colégio de cardeais – o conclave – para escolher o sucessor de João Paulo II. A indicação do novo chefe da igreja segue uma tradição secular, desde a primeira vez que os cardeais foram encerrados a chave até a proclamação do pontífice.
O mundo aguardará, com grande ansiedade, a fumaça branca que vai brotar de uma pequena chaminé, sendo também esse ato um contraste visível e chocante com o estágio deslumbrante das comunicações hoje em dia.
O vetusto comportamento de Roma, mais atenta à tradição que deveria ser, não vai mudar uma vírgula. Tudo será feito de acordo com o processo histórico porque essa fidelidade – em muitos casos – tem peso irrecorrível nas decisões eclesiais. Vê-se que Roma está atenta a tudo, mormente no primeiro conclave da era da tecnologia da informação, concedendo-se o requinte monárquico de obrigar os cardeais a manterem voto de absoluto silêncio, até serem encerrados – ontem – na Casa Santa Marta.
Paira nesse ambiente de ambigüidades e lances políticos jogados à sombra do imponente conjunto arquitetônico da Santa Sé, a figura hierática do cardeal alemão Joseph Ratzinger, um dos mais influentes ideólogos da cúria romana e candidatíssimo à mitra de Pedro. Poderoso chefe da Congregação para a Doutrina da Fé, que em tempos de angústia para os divergentes atendia pelo nome de Tribunal do Santo Ofício, segundo os jornais teria conquistado cerca de 40 dos 77 votos suficientes para eleger o papa.
Todos os cardeais são candidatos. Um só é escolhido – reza a lenda – pela prerrogativa divina do Espírito Santo. Tal evidência superior, na prática, é desconsiderada pela ação de homens pecadores, cujas vaidades e sentimentos recônditos de poder e domínio afloram em momentos como esse.
Rezam os católicos de fé e especulam os demais religiosos e os vaticanistas. Mesmo disfarçado pela indiferença ensaiada, há um clima de expectativa nos gabinetes governamentais mais importantes do mundo, de Washington a Moscou e de Londres a Pequim. Que venha a fumaça branca.
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