A ?força? de Renan

?Eu tenho a força!? – berra um personagem de histórias infantis. É um herói, mas na vida política brasileira a pretensiosa proclamação não raro sai da boca de inconfundíveis vilões. O que sustenta o senador Renan Calheiros no trono de presidente do Senado Federal? O fato de ter sido eleito por seus pares, num pleito em que não faltaram influências de pelo menos mais um poder, o Executivo, e regras estabelecidas de que este ou aquele cargo de mando deve ser privilégio desta ou daquela bancada porque majoritária e em razão de combinada alternância? No caso do político alagoano, o que se pede não é que deixe a presidência do Senado por renúncia, mas que se licencie dessas funções para não constranger seus pares enquanto é investigado por uma, duas ou mais irregularidades, atos de falta de ética e, quem sabe, negociatas. Os processos é que dirão se é inocente, como proclama aos quatro ventos sem provar ou pretendendo fazer prova com duvidosos documentos; ou culpado, depois de truncadas investigações em que fez de tudo para evitar perícias e o aprofundamento das denúncias.

Renan vem sendo alvo de bisadas denúncias que vêm sendo analisadas ou descartadas enquanto é presidente em pleno exercício do cargo, o que equivale a ser investigado sob seu próprio e beneplácito comando. Ele dirige, mesmo que com cordões como os que movimentam marionetes, os processos em que figura como indiciado. De que o acusam? Primeiro de ter mantido relações extraconjugais, das quais resultou o nascimento de uma filha. Aí não há crime. Quando muito pecado que, em nossa sociedade, merece e sempre mereceu condescendência, em especial quando o indigitado é homem. Descriminaliza-se o adultério e ainda o político alagoano tem a sorte de ser casado com uma senhora muito compreensiva. Mas aí começam suspeitas de negócios escusos que, no mínimo, constituiriam falta de ética parlamentar. Ele teria pago as pensões à criança e aluguéis para a amada através de um lobista de grande empreiteira. Em dinheiro vivo e sem poder provar a origem dos recursos utilizados, o que fez suspeitar que o numerário teria saído dos cofres da empresa, que tem grandes negócios com o governo federal, os estaduais, inclusive o de Alagoas, e muitos outros nos quais a bênção de Renan Calheiros poderia ser decisiva.

Depois, surgem denúncias de que ele teria beneficiado uma fábrica de cerveja que adquiriu outra menor do irmão de Calheiros, um deputado federal. E que obrigações fiscais da compradora foram esquecidas, por interveniência do senador. Agora a última, e parece que não derradeira denúncia, estoura na imprensa. Renan teria comprado um jornal e duas emissoras em sociedade com um usineiro alagoano, pai de Tereza Collor, pagando um dinheiro que nem os seus bezerros de ouro poderiam produzir. Tudo foi feito através de ?laranjas?, o dinheiro não apareceu perante o fisco e nem mesmo em operações bancárias. A sociedade acabou, continuando Renan como dono de parte das empresas adquiridas, aí aparecendo parentes seus, inclusive um filho, como proprietários.

As maracutaias de que o acusam são tantas que até íamos esquecendo de que ele vendeu gado para quem prova e comprova que não comprou. Rolaram notas frias e os preços cobrados foram um recorde nos negócios de boi gordo ou magro neste País. Aliás, nunca neste País venderam carne a preços tão elevados, desde a proclamação da República. Ou antes.

O Supremo Tribunal Federal, a requerimento do procurador-geral da República, acaba de surpreender. Decidiu tocar adiante as investigações contra Renan Calheiros, abrindo as suas portas de foro privilegiado. Oposicionistas já declararam que nada mais votarão no Senado enquanto Renan não se licenciar. Assim, o homem que se supõe ter força incomensurável não está apenas mofando das instituições, está também prejudicando o funcionamento do Poder Legislativo. Tudo porque se julga inocente e não admite que ninguém ouse considerá-lo culpado. Nem que prove, pois ele é sua excelência, um senador, e isso lhe parece um escudo de intocabilidade.

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