Na primeira entrevista coletiva, concedida ontem de manhã pelo presidente Lula, depois da indicação do jornalista Franklin Martins para o Ministério da Comunicação Social, que havia prometido trabalhar para convencer o presidente dos benefícios de tornar rotineiros seus encontros com a imprensa, os repórteres estiveram à vontade para perguntar e o chefe do governo para responder.
Numa análise ligeira, não se percebeu o mínimo arranhão à dignidade do cargo de presidente da República ou da instituição centenária que ele representa. Aliás, a ocasião é propícia para resgatar uma verdade insofismável: jornalistas não existem para desrespeitar o presidente ou qualquer outra pessoa, embora em situações específicas de desvios éticos da gestão pública sintam-se estimulados, por dever de ofício, a fazer perguntas embaraçosas que desgostam profundamente homens públicos não afeitos ao livre exercício da democracia.
Como se viu, Lula não perdeu nenhuma das oportunidades para esclarecer a opinião pública sobre os temas palpitantes do momento. Se o presidente verbalizou nas respostas o que está realmente passando por sua cabeça, como não poderia deixar de ser, não há a menor possibilidade de vir a disputar o terceiro mandato em 2010.
Segundo ele, o candidato da situação deverá brotar do entendimento dos 11 partidos da coalizão governamental. E aquele que for escolhido, reiterou, terá seu inteiro apoio na campanha. Além das múltiplas nuanças da política brasileira, entrementes, a maior dificuldade é afiançar que a coalizão não se desmanche nos próximos anos e até que ponto vão se digladiar as forças internas para entrar em acordo quanto ao candidato.
Pode-se vislumbrar desde agora um revanchismo com amplas possibilidades de chegar à ruptura, envolvendo o petismo de resultados, mesmo com todo o desgaste moral do partido, e o bloco socialista da coalizão, cuja premissa imediata é encaminhar a candidatura de Ciro Gomes.
Do outro lado do tatame posta-se o PMDB, com cinco ministros e a maior bancada da Câmara, convicto que de tanto levar água ao moinho alheio, FHC e Lula, respectivamente, desta vez vai cerrar fileiras em defesa da prerrogativa de indicar o candidato presidencial e contar com a adesão dos demais partidos.