A engenharia genética e a fome

As empresas de biotecnologia afirmam que os organismos geneticamente modificados – OGMs -, também conhecidos como alimentos transgênicos, são descobertas indispensáveis para alimentar o mundo, proteger o ambiente e reduzir a pobreza nos países em desenvolvimento.

Esta opinião se apóia em duas suposições muito questionáveis. A primeira é que a fome está relacionada com a defasagem entre a produção de alimentos e a densidade populacional. A segunda é que a engenharia genética é a melhor forma de aumentar a produção agrícola, portanto, de satisfazer as necessidades futuras de alimento.

Não há relação entre a existência de fome num país e sua população. Para cada nação densamente povoada e faminta, como Bangladesh ou Haiti, existe uma nação escassamente povoada e faminta, como o Brasil e a Indonésia.

O mundo produz hoje mais alimento por habitante que em outras épocas. Existe suficiente comida para fornecer quase dois quilos por pessoa por dia: pouco mais de um quilo de grãos, feijão e nozes, cerca de meio quilo de carne, leite e ovos, e outro tanto de frutas e legumes. As verdadeiras causas da fome são a pobreza, a desigualdade e a falta de acesso aos mercados. As pessoas são demasiadamente pobres para comprar o alimento que está disponível ou carecem de terra e recursos para plantar.

Em relação à segunda suposição, observamos que a maioria das inovações em engenharia genética tem sido dirigida, prioritariamente, para aumentar os lucros das empresas e não, como se afirma, para aumentar a produção agrícola. Isso se justifica quando examinamos alguns produtos que já estão sendo comercializados por multinacionais como a Monsanto. Por exemplo, mais de 80% dos cultivos transgênicos, hoje no mercado, são resistentes às marcas de herbicidas de propriedade da Monsanto. A meta não é aumentar a produção e, sim, ganhar maior participação no mercado de herbicidas.

Essas tecnologias buscam, sobretudo, intensificar a dependência dos agricultores das sementes protegidas pelo chamado “direito de propriedade intelectual”, que se opõe ao direito dos agricultores de reproduzir e armazenar suas próprias sementes. As multinacionais tratam de induzir os agricultores a comprar os produtos de suas marcas e proibi-los de guardar suas sementes.

A integração das indústrias agroquímicas e de sementes entre as multinacionais do setor aumenta os gastos com sementes e produtos químicos, diminuindo o lucro dos agricultores.

Valdir Izidoro Silveira

é engenheiro agrônomo, especialista em planejamento e desenvolvimento regional, mestrando em tecnologia de alimentos e membro do Movimento Alerta Transgênicos de Curitiba.

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