A eleição que inglês vê

José Serra continua batendo firme em Ciro Gomes, o que deixa dúvidas sobre qual dos dois irá para o segundo turno. Nenhuma dúvida, entretanto, sobre a presença de Luiz Inácio Lula da Silva na derradeira fase das eleições. Nem as pesquisas desmentem, nem nós, nem mesmo os ingleses acreditam na possibilidade de o candidato do PT ficar fora do segundo turno. Em Londres, a Economist Intelligence Unit (EIU), respeitada consultoria de assuntos econômicos internacionais, acredita na vitória final de Serra. Uma visão distorcida, não intencionalmente, mas pela vontade de que isso aconteça. Acredita que, no segundo turno, vários fatores beneficiarão Serra, inclusive o apoio de Fernando Henrique Cardoso. Qualifica José Serra como um candidato menos ortodoxo que o governo FHC, dando mais ênfase na política industrial e promoção das exportações. “Mas, mesmo assim, representa um maior continuísmo do que seus rivais”, acrescenta. Deixa claro que o mercado lá fora prefere o ex-ministro da Saúde. Mas admite a vitória de um candidato de “esquerda”. E aí estão Lula e Ciro.

Examinando a candidatura Ciro Gomes, diz o estudo da AIU que o programa do candidato trabalhista “carece de coerência”. E acrescenta que “a sua retórica de campanha tem sido mais esquerdista do que a de Lula, rejeitando um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e metas inflacionárias e sugerindo uma reestruturação voluntária da dívida, mas parece que seus aliados da direita, bem como seus detratores, duvidam de sua sinceridade. A sua impulsividade, inconsistência e populismo, que lhe foram úteis nos primeiros estágios da campanha, poderão se transformar em pontos fracos na fase final da campanha”, conclui a agência inglesa.

Examinando a hipótese de vitória de um dos candidatos que denomina populistas, Lula ou Ciro Gomes, o estudo diz que ele deverá responder às pressões de mercado através da adoção de políticas necessárias para restabelecer a confiança entre os investidores. Adverte que há risco de uma generalizada venda de ativos financeiros brasileiros antes ou depois da posse, concretizando a crise financeira que os mercados vêm temendo. Prevê a EIU que no segundo turno, com Lula, seus adversários tentarão salientar o que considera seus pontos fracos, tais como falta de experiência no Executivo e de educação formal. Aí, prevê uma união dos adversários de Lula contra ele. Se a referência é a uma união de Ciro e Serra, parece um redondo equívoco. Cada dia mais, esses candidatos se tornam irreconciliáveis.

Mais prognósticos fazem os estudiosos ingleses. Acreditam que, mesmo no caso da vitória de Serra, o Congresso, com sua nova composição, regulará o poder do Executivo para controlar a política econômica. Certamente não será diferente com a vitória de Lula ou a hoje menos provável vitória de Ciro.

O trabalho da agência britânica conclui com palavras otimistas. Diz que, caso seja confirmada a previsão de que o próximo governo brasileiro será capaz de restabelecer a confiança do mercado e que a recuperação na economia dos Estados Unidos é sustentável, o crescimento econômico do Brasil em 2003 ganhará força, com uma expansão de 2,6% do PIB. A julgar-se pelas análises e conclusões desse estudo, na ótica desses britânicos, tanto Lula, quanto Serra, são confiáveis, mesmo que indiquem preferência pelo candidato situacionista. Quanto a Ciro, desconfiam e criticam abertamente. Desconfiam, inclusive, de seu esquerdismo, uma encenação para a platéia.

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