A dança dos números

No governo que se finda e que vai ser bisado, tivemos crescimento positivo, anunciado com o troar de trombetas. Foi então que críticos mais meticulosos descobriram que o nosso país crescera menos que todos os outros da América Latina, menos que a média mundial, menos que os países ditos em desenvolvimento e, nestas bandas ocidentais, só havia ganhado do paupérrimo Haiti. Esse desempenho pífio foi bisado. No plano social, ficou provado e até aplaudido por organismo da ONU o desempenho brasileiro no combate à fome. Isso em comparação não com o número de barrigas vazias que por aqui ainda existem, mas em relação à meta internacional de reduzir pela metade a fome no mundo em quinze anos.

No período da campanha eleitoral, quando parece permitido mentir contra ou a favor e principalmente sofismar, houve uma dança dos números que deixaria tonto qualquer eleitor. E até mesmo os candidatos e governantes. Em geral, os sucessos obtidos deixavam de considerar sua base de cálculo. Assim, crescer 50% se a base é 1 é chegar a apenas 1,5. E se neste país nasce gente todos os dias e ainda em percentual acima do crescimento demográfico recomendado, o crescimento dos índices econômicos e sociais, mesmo que positivo, pode significar nada ou menos que nada. Basta que seja inferior ao aumento vegetativo da população e de suas necessidades.

Há uma tabela mundial, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que posiciona os países do mundo em termos de progresso na acepção mais ampla do termo. Nesse ?ranking?, melhoramos de posição, o que parece um dado altamente positivo e um crédito para o atual governo. Acontece que outros países também melhoraram, crescendo em percentuais maiores que o nosso. E a China, por exemplo, campeã atual de crescimento econômico, apresentou um Índice de Desenvolvimento Humano dos mais baixos do planeta.

Países como Argentina e Uruguai obtiveram posições melhores que a do Brasil.

Assim, crescer é importante, mas essencial que esse crescimento tenha peso sobre a base, o ponto de partida sobre o qual é calculado. E que o desenvolvimento humano que registra seja amplo, atingindo toda a nação.

Estudos posteriores a esses últimos passos da dança dos números que pareciam favoráveis ao nosso país, mas que de fato não foram, mostram que a nossa situação incômoda na tabela mundial de desenvolvimento humano deve-se à educação. Esse setor teve recursos federais reduzidos durante o atual governo. Dados oficiais revelam que a educação recebeu R$ 31,5 bilhões do orçamento da união no ano passado, equivalentes a 1,63% do PIB (Produto Interno Bruto). Nos últimos três anos do governo anterior, o gasto em educação se manteve no patamar de 1,73% do PIB.

A opção do governo Lula por políticas sociais talvez explique essa situação contraditória do nosso IDH. Das quatro principais áreas da política social, duas tiveram forte crescimento nas despesas: previdência e assistência. Houve, portanto, privilegiadas transferências diretas de renda aos beneficiários, em detrimento dos serviços do governo, dentre eles a educação.

Vamos, brevemente, começar uma nova administração sob a batuta do mesmo presidente Lula, mas com renovada equipe e anunciados projetos de desenvolvimento econômico e social. E já se fala em ir substituindo os programas sociais pela geração de empregos, de forma a fazer deste Brasil um país que ande pelas próprias pernas.

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