José Dirceu é o homem forte do governo Lula. E o é desde quando ministro-chefe da Casa Civil com os poderes inerentes ao cargo e ainda a coordenação política das forças que apóiam o governo e as bancadas no Congresso Nacional. Desses poderes de coordenação com o Congresso, desvencilhou-se, mas ganhou de Lula a função de gerenciar os demais ministérios e as suas ações conjuntas, o que equivale, na prática, ao exercício de cargo de um primeiro ministro.
Além disso, José Dirceu representa para os petistas autênticos, senão a garantia, pelo menos a esperança de que o governo – que se esperava de esquerda, começou de centro e inclina-se cada vez mais para a direita no plano econômico – venha um dia a ter nele o líder que vai enfrentar a equipe econômica. E procurar dar ao governo uma feição esquerdista, mais acorde com a pregação e o programa do partido até que chegou ao governo.
Pois este homem de tanto poder está agora sendo instado, inclusive por correligionários e principalmente por líderes da oposição, a afastar-se do cargo enquanto se investiga o caso de Waldomiro Diniz da Silva. Waldomiro foi subchefe de assuntos parlamentares da Casa Civil de janeiro de 2003 a fevereiro de 2004, escolhido por Dirceu, e continuou nas mesmas funções, com a divisão do ministério, agora sob outro comando. Mas é ou era homem de confiança de José Dirceu, com quem chegou a dividir um apartamento, e só ganhou cargo no Palácio do Planalto por convocação do ministro-chefe da Casa Civil.
Waldomiro Diniz foi denunciado, com fita de vídeo e tudo, por negociar com bicheiros dinheiro para campanhas eleitorais, inclusive de petistas, e propinas para si mesmo. Dirceu tentou defender o governo, dizendo que tudo aconteceu em 2002, quando Lula ainda não era presidente, omitindo o fato de que a negociata deu-se para financiar a campanha que levou o PT e aliados ao poder. Agora surgem denúncias de que Diniz continuou os contatos suspeitos com os bicheiros, já quando Lula era presidente, Dirceu seu ministro-chefe da Casa Civil e o indigitado seu homem de confiança.
Há aí uma cadeia de desconfianças e responsabilidades que, se não chegaram ainda a Lula, poderão chegar. Mas que, certamente, pelo menos sob o ponto de vista jurídico, atingem José Dirceu. O cargo de Diniz era de confiança e livre escolha de Dirceu, sem necessidade de consulta a Lula. O ministro-chefe da Casa Civil tinha poderes para nomear Waldomiro Diniz para o alto cargo de confiança que passou a ocupar no governo. Se nesse cargo e usando os poderes e a influência que o mesmo lhe conferia, cometeu irregularidades ou até crimes, José Dirceu tem o que se chama “culpa in eligendo”. Ele escolheu, elegeu Diniz e se este age como homem do governo para promover negociatas, ao seu chefe transferem-se responsabilidades. Por que escolheu um crápula para servir ao governo?
É o caso de um cliente que, comprando num estabelecimento comercial, é tapeado pelo balconista. O gerente e o dono da loja têm culpa. Culpa “in eligendo”, pois o balconista é de sua escolha e seu subordinado. Têm de ressarcir o freguês lesado.
Poderá surgir a situação de o povo ter de ser ressarcido.
É por isso que hoje pedem o afastamento de José Dirceu do cargo. Não porque provado que algo tenha efetiva e propositadamente feito contra o governo e a sociedade, no exercício de seu alto cargo. Que esteja pessoalmente envolvido nas negociatas de Diniz. Mas apadrinhou e o levou para o governo. Que se afaste até que tudo se esclareça.