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Enquanto o investimento recomendável no setor da educação é de 6% do PIB – Produto Interno Bruto, o Brasil aplica apenas 4,2% de suas riquezas nessa área, da qual todas as outras dependem. Temos, assim, problemas no ensino fundamental, no médio e no superior. E um alto índice de analfabetos, que não se encaixam em nenhum dos níveis do aprendizado. Numa das pontas, há desvios na merenda escolar e, na outra, não há acerto com relação à forma de avaliação da qualidade dos cursos ditos superiores, onde o "superior" é, geralmente, o preço cobrado para a obtenção do diploma. Segundo a Unesco, nos últimos tempos melhoramos em quantidade, mas não em qualidade. O desmanche do Provão instituído no governo anterior é a evidência mais inconteste de nossas incongruentes vicissitudes: o que faz um governo, desfaz o outro.

Na ponta da alfabetização, tentamos de tudo. As impressões digitais no lugar da assinatura já foram qualificadas como "o borrão da incompetência" nos anos 70s, quando, na base do "ame-o ou deixe-o", o regime ditatorial convocava a cidadania responsável a ensinar jovens e adultos a ler e a escrever. Depois, na esteira de outros desmanches, o Mobral foi extinto e por algum tempo quase nos esquecemos de cuidar desse setor. No governo anterior, estabeleceram-se prêmios para incentivar a freqüência à escola e evitar a evasão escolar. Mas o Bolsa Família, que sucedeu o Fome Zero e englobou outros programas da área, esqueceu a parte dos controles e, agora mesmo, sem incentivos à permanência na escola, estamos partindo para outra: importamos (os testes já estão começando) o modelo cubano de alfabetização.

Jura o ministro Tarso Genro, da Educação, que vai dar certo. Na ilha de Fidel, dizem, está um dos mais baixos índices de analfabetos do mundo e, por isso, imaginam alguns que os métodos lá empregados devem ser também os melhores. Vamos pagar por isso, mas para Tarso, o custo não tem muita importância. Tradutores e impressores também são filhos de Deus e merecem ganhar uns trocados, assim como os autores do método cubano que, a princípio, não tem muitos segredos. O maior deles, pelo que se deduz das explicações fornecidas, é produzir alunos sem professores.

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Explicamos melhor. O método que vem da ilha usa a educação a distância. Por isso, não há necessidade de um professor acompanhar as aulas. As dúvidas dos alunos são resolvidas por mediadores que podem ser inclusive voluntários da própria comunidade. O resto é feito por manuais e fitas gravadas. Segundo o ministro Tarso Genro, os métodos brasileiros são basicamente "presenciais", com professor em uma sala de aula com alunos e, por isso, perdemos para o método cubano, que "facilita o acesso dos alunos". O diretor de Educação de Jovens e Adultos do MEC, de nome Timothy Ireland, completa: "O Brasil tem dificuldade de ter professores capacitados em cada localidade". No método cubano, "o professor está no vídeo". Simples.

Ninguém fala nada de avaliação e coisas do gênero. Imagina-se que a presunção da alfabetização completada, assim, sem professores em sala de aula, ocorra a cada ciclo de exibições. Também muito simples. Durma o aluno ou tenha ido ao banheiro. Assim, as estatísticas ficam mais fáceis. E o Brasil, na esteira de Cuba, poderá ser o maior país do mundo a apresentar, sem contestação, altíssimos níveis de alfabetização…

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O método cubano está para entrar em testes em três municípios do Estado do Piauí. Se lá der certo – como se imagina ocorra – será estendido para o resto do Brasil, conforme promete o ministro. Basta que se comprem projetores e telas ou aparelhos de televisão. De preferência maiores que os comuns. E o governo que prometeu gerar dez milhões de empregos novos em quatro anos já desperdiça a oportunidade de gerar alguns: começa com a dispensa de novos contratos ou concursos exatamente pela área da educação. Voluntários sempre são menos incômodos que professores, que costumam pensar, contestam, reclamam salários melhores, querem férias, ficam doentes e, ainda, exigem reciclagem de tempos em tempos. Viva o método cubano de ensino a distância para, também distantes, ficarem os problemas. Nossa juventude – como diz a Unesco, sempre mais quantidade e menos qualidade – tem outras coisas para fazer.