A crise e os números

As pesquisas eleitorais sempre sofrem contestação. Os perdedores ou as consideram viciadas, manipuladas ou minimizam seu significado, dizendo que as de hoje não indicam como serão as futuras e, quanto mais longe dos pleitos, menos valor lhes atribuem. É realidade que, ao longo do tempo e em períodos de campanhas eleitorais, além de eventuais manipulações das pesquisas, há mudanças na opinião pública que se refletem nos números coletados.

Na semana passada, entretanto, foram feitas duas pesquisas amplas, abrangendo praticamente todo o País. As duas apontaram, pela primeira vez, a possibilidade de derrota de Lula também no primeiro turno, se seu adversário for José Serra, prefeito de São Paulo e candidato do PSDB nas últimas eleições presidenciais. Serra foi derrotado por Lula.

É interessante notar que a segunda pesquisa mostra uma vantagem de Serra sobre Lula ainda maior do que a primeira, o que pode ser atribuído à influência dos números daquela. Há no eleitorado uma tendência de voltar-se para os vencedores, principalmente quando vencedores e vencidos não parecem opções capazes de entusiasmar e provocar uma clara opção.

No caso de Serra, entretanto, quem funciona como seu maior cabo eleitoral é o próprio presidente Lula. A crise política que aflige e quase afunda o governo num mar de lama não foi por ele enfrentada a contento. Procurou desde o início mostrar-se imune aos seus efeitos e ignorante dos fatos e atos que a compuseram. Não parece aceitável para a sociedade que o presidente seja vítima, nem ignorante. Ou era conivente ou participante e, se de fato ignorava, a versão menos acreditada, estava omisso como chefe da nação.

Tudo isso tentou enfrentar brandindo os sucessos da política econômica e os projetos sociais.

Aí os pontos positivos sempre foram sucedidos pelos negativos e o fogo amigo, o bate-cabeças dentro do próprio governo, tiraram das gabações costumeiras e cheias de empáfia os efeitos desejados pelo situacionismo.

A crise está cansando. Mas cansando a opinião pública estão também os discursos megalômanos governistas e as irritantes comparações com o governo passado. Se este governo muito mais fez do que os anteriores, falta tornar isso claramente visível. O sentimento da opinião pública é de que pouco ou nada está fazendo. Aliás, pensamento também de muitos situacionistas, dos petistas ortodoxos e, para espanto geral, de alguns ministros do próprio governo.

Nas oposições surge primeiro a candidatura Geraldo Alckmin. O governador de São Paulo declarou-se candidato e não parece temer uma disputa com Serra. Nem importar-se com as pesquisas que apontam o prefeito de São Paulo como preferido. É que as eleições não serão nem hoje nem amanhã e há tempo para que Alckmin cresça e ganhe a posição já conquistada por Serra, sem mesmo lutar por ela. É que quem está criando as condições favoráveis à eleição de um oposicionista é o próprio governo Lula e a derrocada governista beneficiaria também um governador do PSDB que comanda o maior estado do País. E, diga-se de passagem, goza de bom conceito.

Serra é lembrado primeiro porque se faz um ?flash back? e ele é visto como o adversário de Lula que foi derrotado. Os eleitores arrependidos ficam a imaginar se não teriam feito melhor votando nele e não acreditando naquela história de ?não ter medo de ser feliz?. Sentem-se como quem se jogou de olhos fechados numa aventura e deu com os burros n´água.

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