A coisa sólida

A questão mais inquietante dentre quantas venham a surgir na CPMI dos Correios, o tema que mais interessa a seus componentes e à nação, diz respeito à origem do dinheiro que irrigou as contas do publicitário Marcos Valério no Banco Rural e BMG, daí fluindo por uma rede interminável de dutos curiosamente ligados a cúpulas partidárias e parlamentares.

Ora, não é cabível imaginar que uma pessoa, por melhores intenções que possua, assuma sozinha a responsabilidade de carrear recursos financeiros de elevada monta para sanear as finanças combalidas desse ou daquele partido.

Tampouco os bancos que emprestaram o dinheiro que agora pretendem cobrar pela via judicial, já que os prazos não foram respeitados, jamais se pautaram pelo viés patriótico de conceder financiamentos para os fins a eles destinados por Marcos Valério e Delúbio Soares, fiando-se apenas na palavra e nas assinaturas dos referidos personagens.

Tais operações foram realizadas com base em alguma coisa mais sólida, que, no dizer premonitório de Karl Marx, sempre se desmancha no ar. A coisa sólida, no caso, a origem do dinheiro, a CPMI está a ponto de descobrir. Providência concreta nesse sentido veio com a quebra do sigilo dos fundos de previdência da Caixa Econômica Federal (Funcef), Petrobras (Petros) e dos servidores da administração direta (Geap).

A razão fundamental é que tais fundos fizeram depósitos no BMG e Rural, mas somente com a quebra do sigilo se poderá saber se houve alguma movimentação de parte desses recursos para as contas valerianas. Pode ser apenas uma vã suposição, mas a CPMI não poderá desconsiderar essa linha fulcral de trabalho, tendo em vista o volume de R$ 55 milhões movimentado por Marcos Valério.

Muito se avançou na constatação da veracidade das denúncias do deputado Roberto Jefferson, mas o mérito só estará completo quando a nação souber de que fonte dadivosa veio o dinheiro. Caso se confirme a suspeita que os fundos de pensão teriam servido para abastecer a cornucópia, o País estará diante da mais horrenda página de todo o drama instalado na República.

Tráfico de influência e abuso de poder foram empregados ao infinito. Contudo, não é crível que meros burocratas partidários ou da administração federal, como se fantasia até agora, tenham recebido tamanha autonomia. Aos poucos, a trama policialesca vai se desmontando e os verdadeiros culpados – não o mordomo ou o tesoureiro – serão afinal conhecidos. O País vai sofrer, mas as feridas serão curadas.

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