Reunindo-se com o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), o presidente Lula procurou apagar o incêndio que começava na bancada do maior partido do Congresso e do seu governo. Para amainar a briga por cargos e a gula peemedebista, o chefe da nação anunciou que vai nomear (e já está nomeando) peemedebistas para oito polpudos cargos. A políticos foram entregues cargos técnicos, desmentindo o anúncio inicial de que seriam consideradas habilitações específicas para essas funções. Até o Banco do Brasil recebeu um ex-senador que não conseguira se aninhar num ministério por oposição de seu ocupante. O que vale é a armação política. Se disso vai resultar um bom ou um mau governo, é ver para crer, porque o que importa é a precária paz e unidade nas chamadas bases situacionistas.
Fica comprovado que este é um governo do PMDB com a colaboração, de certa forma compulsória, de outros partidos menores, inclusive o PT de Lula.
O jornalista Josias de Souza, que mantém um ?blog? na Folha de S. Paulo, rememora o que escreveu o humorista Barão de Itararé: ?O político brasileiro é um sujeito que vive às claras, aproveitando as gemas e sem desprezar as cascas?. Referindo-se à recente e primeira entrevista coletiva do presidente da República, diz que Lula falou às claras sobre a omelete de 2010, quando haverá nova eleição presidencial. Deixou no ar a impressão de que ao PT está reservado não o papel de gema, mas o de casca.
Naquela entrevista, embora dissesse que desejava influir na eleição do seu sucessor, o presidente descartou dar uma de Hugo Chávez – plantando sua eternização no poder na Venezuela. Lula não será candidato pela terceira vez porque a nossa legislação não permite e não vai sequer tentar modificá-la. Respeita o regime democrático e até é contra o instituto da reelegibilidade. Mas aceita o que o PMDB já deixou claro que exige: o sucessor do presidente seria um nome dos seus quadros. Mas Lula vai mais adiante, abrindo o leque. Perguntado, disse que aceita até a possibilidade de que seja candidato à sua sucessão o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, nome do PSDB, o maior partido da oposição. Os peemedebistas não gostaram de tanta prodigalidade e se ainda não reclamaram é porque estão ocupados abocanhando cargos no governo.
Lula insiste que o Partido dos Trabalhadores, a casca do ovo, está bem aquinhoado em sua administração, pois detém o maior cargo, a Presidência da República, e reafirmou que deseja conversar com todos os partidos e todas as lideranças. E citou nominalmente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sempre seu amigo, embora adversário. Adversário e não inimigo. Só não marcou audiência já para que não pareça uma tentativa de obter adesão. O condomínio situacionista já conta com nada menos de treze partidos, entre nanicos, meias-bocas e esfomeadas feras da política. Isso pode parecer um passo rumo à união nacional. Infelizmente não é. O que está sendo feito é um governo em que a diversidade traduz-se em prolixidade e em rateio de cargos. É a montagem de uma máquina que cada dia mais parece uma engenhoca bolada por algum cientista aloprado. Não há comunhão de idéias, nem de programas, nem de objetivos políticos. Uma omelete na qual o PT é a casca.