A campanha começou

O senador Garibaldi Alves, do PMDB do Rio Grande do Norte, presidente do Senado, ao contrário de seu antecessor que rezava pela cartilha do governo, tem se mostrado independente. Independente e preocupado em recuperar ou, pelo menos, reconstruir em parte o desgastado prestígio daquela casa de leis.

Interpretando os últimos eventos na CPI Mista dos Cartões Corporativos e referentes ao dossiê que teria sido feito na Casa Civil para fuçar despesas de cartórios corporativos e contas tipo B no governo Fernando Henrique Cardoso, Alves considerou que o avanço nas discussões entre oposicionistas e situacionistas está antecipando a campanha eleitoral. Ele refere-se à campanha eleitoral para eleição de prefeitos, que ocorrerá ainda neste ano, mas por envolverem a ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil e provável candidata de Lula à Presidência da República, os embates entre situação e oposição antecipam também as eleições presidenciais. ?Eu acho que a campanha está começando muito cedo. Quem for provocado vai ter que responder, está no seu direito. Mas eu não acho que o clima de campanha deve se instalar. O melhor para o governo seria governar sem esse clima?, afirmou o senador potiguar.

Para ele, o fim do sigilo dos gastos da Presidência da República com cartões corporativos poderia encerrar a disputa política instalada na Casa. ?Na minha opinião pessoal, para acabar essa celeuma toda, o governo deveria abrir o sigilo. Mas eu sou presidente do Congresso, não do governo?, completou.

Garibaldi defende que os poderes Executivo e Legislativo procurem evitar o ?clima de radicalização que não interessa a nenhum dos dois?, de forma que as atividades do Congresso não sejam prejudicadas pela disputa política.

O principal ponto da discórdia está na convocação da ministra Dilma Rousseff. O objetivo de ouvi-la sobre cartões corporativos caiu para segundo plano desde que a Casa Civil foi acusada de montar um dossiê contra FHC e sua esposa, para chantagear a oposição e assim evitar que as contas dessa rubrica do governo Lula sejam esmiuçadas. O governo, sob o comando pessoal do presidente Lula, decidiu enfrentar a oposição na base do voto em plenário, não admitindo a convocação e nem que haja um dossiê como acusam os oposicionistas, dentre eles o principal é o paranaense senador Alvaro Dias (PSDB).

É de se indagar se inexiste dossiê e não há o que esconder, por que blindar a ministra Dilma Rousseff. Ela está no palco como a ?mãe do PAC?, como disse repetidamente Lula. Parece ser a candidata de sua preferência à sucessão presidencial. E no âmbito de sua pasta é que são controlados os cartões corporativos.

Não obstante, goza de prestígio inclusive junto ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que publicamente disse acreditar em sua sinceridade quando declarou que não mandara fazer nenhum dossiê envolvendo inclusive dona Ruth Cardoso.

O rolo compressor do governo tem funcionado e a blindagem tem sido praticamente completa. Mas a oposição já encontra saídas, dentre elas a convocação da ministra para falar do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na comissão de serviços e infra-estrutura do Senado, oportunidade em que será difícil aquela autoridade escapar às perguntas sobre o dossiê e os cartões corporativos.

A convocação para a auditiva, que deverá ocorrer dentro de 30 dias, será objeto de cuidados especiais dos situacionistas, que pretendem evitar as perguntas inconvenientes. Mas as oposições já estão providenciando uma nova comissão de inquérito, desta vez só do Senado, pois nesta casa a maioria governista é incerta. Os oposicionistas e parte dos situacionistas não rezam exatamente pela cartilha de Lula.

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