Ao completar nesta quarta-feira, 1º de dezembro, 39 anos de atividades, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) está trabalhando num novo projeto de transformação na cidade: a criação de um eixo de desenvolvimento ao longo da antiga BR-116. A tarefa não assusta os técnicos do Instituto, pois, afinal, todas as transformações urbanas ocorridas na cidade desde 1965 passaram antes pelas pranchetas dos seus arquitetos.
Criado com a finalidade de acompanhar a implantação do então recém-criado Plano Diretor de Curitiba, o Instituto comemora mais um aniversário, com uma coincidência: a votação, nesta terça-feira, na Câmara Municipal, da lei que promove a adequação do Plano Diretor ao Estatuto da Cidade – uma lei federal que traça normas de política urbana e está em vigor desde 2001.
O Estatuto estabelece um prazo de cinco anos a partir do início da vigência – até outubro de 2006 – para que os municípios adaptem suas legislações às diretrizes federais e cria a obrigatoriedade da adoção de plano diretor para toda cidade com população acima de 20 mil habitantes. "Como Curitiba tem o seu plano desde 1965 e já aplica muitos dos instrumentos de política urbana preconizados no Estatuto, o trabalho de adaptação foi facilitado", diz o presidente do Ippuc, arquiteto Luiz Hayakawa.
Diretrizes
De acordo com Hayakawa, o projeto de lei em tramitação na Câmara contempla todos os mecanismos do Estatuto mas mantém as diretrizes do Plano Diretor de 1965, sustentado em um tripé: transporte coletivo público, sistema viário e uso do solo. "Esta é uma fórmula que deu certo e garantiu à Curitiba uma posição de vanguarda em gestão do meio urbano", afirma o arquiteto.
Hayakawa acha que o trabalho de incorporação do Estatuto ao Plano Diretor vai confirmar a trajetória inovadora de Curitiba. "Nestes 39 anos, a tarefa de monitorar continuamente o desenvolvimento da cidade deu ao Ippuc a condição de aperfeiçoar os instrumentos de gestão urbana e, por isso, o projeto de adaptação que será votada pelos vereadores tem alguns avanços", diz ele.
Entre os ganhos, o presidente do Ippuc aponta o projeto do Eixo Metropolitano, que é tratado na nova lei como uma área de expansão e adensamento. "Muita gente compara a transformação que irá ocorrer nos bairros cortados pela antiga rodovia ao processo verificado há mais de 30 anos no eixo norte-sul. Eu acho, no entanto, que o impacto será maior, porque o novo eixo terá uma abrangência não apenas local, mas regional, com reflexos nos municípios vizinhos da Região Metropolitana", defende o arquiteto.
O primeiro
O transporte público funcionou como um fator indutor de expansão e, aliado ao uso do solo, transformou as estruturais – formadas pelo conjunto da via do ônibus mais as duas vias laterais (rápidas) – em áreas preferenciais para adensamento, concentrando prédios de maior altura e misturando atividades (comércio, serviços e residências).
O Eixo Metropolitano foi concebido dentro da mesma lógica, mas, segundo Hayakawa, irá provocar uma alteração mais profunda, mudando radicalmente o perfil de ocupação das margens da antiga rodovia, hoje quase exclusivamente voltada para atividades ligadas ao setor de transporte de cargas, industrias e galpões de depósito. O novo zoneamento ao longo do Eixo prevê a mescla de usos, abrindo a possibilidade para construções de prédios com até 12 pavimentos para uso comercial ou habitacional.
"Esta transformação não virá da noite para o dia, é claro. Ela será gradativa, mas o município vai dar um impulso inicial, promovendo uma mudança física na área, criando as estações ao longo do trajeto e implantando um parque linear em toda a extensão. Isso vai animar e atrair investidores para estas áreas", prevê Hayakawa.
De acordo com ele, este processo de transformação será acompanhado pelo Ippuc e, se necessário, poderá sofrer adaptações durante a implantação. "Tem uma coisa que a prática ensinou a todos no Ippuc. O planejamento não é estático e não pode ser uma coisa engessada. Pelo contrário, ele é dinâmico e tem que ser revisto a todo momento. Há 39 anos, Curitiba cresce assim, olhando o futuro, mas com os pés no chão", afirma.
Isto é Ippuc
Quem anda pela cidade, muitas vezes não se dá conta do trabalho dos técnicos do Ippuc. Veja alguns exemplos de intervenções urbanas que saíram das pranchetas do Instituto:
– sistema de transporte;
– criação do setor histórico;
– implantação dos parques, para preservação ambiental e oferta de áreas de lazer para a população;
– criação dos eixos estruturais;
– introdução de mecanismos como a transferência de potencial construtivo para estimular a preservação do patrimônio histórico e do solo criado para arrecadar recursos para financiar a habitação popular;
– projetos para implantação das redes de creches, escolas e unidades de saúde do município;
– criação de espaços culturais como o Teatro Paiol, Museu Guido Viário, Casa Romário Martins, Cinemateca, entre outros;
– concepção de espaços que se tornaram cartões postais da cidade, como o Jardim Botânico, Ópera de Arame, Universidade Livre do Meio Ambiente, Rua 24 Horas;
– Ruas da Cidadania;
– Planejamento do Bairro Novo;
– Linhão do Emprego.
O eixo norte-sul, entre o Pinheirinho e o Atuba foi o primeiro corredor de transporte implantado na cidade, ainda na década de 70. Ele colocou em prática uma nova concepção de desenvolvimento para cidade – o crescimento linear em substituição ao crescimento radial – e foi calcado no tripé que consagrou Curitiba como um modelo de planejamento. Para ele, a experiência de planejamento continuado de Curitiba é um diferencial no país e o segredo desta continuidade é justamente o trabalho do Ippuc. "Outras cidades não têm esta tradição e, embora tenham em algum momento criado seus Planos Diretores, não persistiram na sua aplicação e experimentaram políticas seccionadas, com resultados nem sempre satisfatórios", explicou.
