Funcionou como cronômetro suíço a estratégia adotada pelo ministro Antônio Palocci, ao convocar a entrevista coletiva de domingo e assegurar a disposição de responder a todas as perguntas que lhe fossem feitas.
Essa foi, na verdade, a cereja no alto do creme oferecido aos principais operadores da economia, ávidos para ouvir que nenhuma mudança drástica e, pior, repentina, está na pauta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem respeitosamente o ministro da Fazenda creditou a responsabilidade pela condução da política econômica do governo.
O encantamento produzido por Palocci nas altas esferas da economia daqui e d?além-mar chegou ao clímax, quando o ex-prefeito de Ribeirão Preto descartou a ocorrência de mudanças mesmo com sua saída do ministério. A melhor definição do clima, sem dúvida, foi dada pelo deputado Severino Cavalcanti, ao concordar que ninguém é insubstituível.
Para o estadista de João Alfredo (PE), todavia, a continuidade do ministro da Fazenda no governo Lula ?é imprescindível?.
Já se repetiu infinitas vezes que a economia não se deixou contaminar pela crise política, e a absorção do impacto causado pela acusação de ex-secretário da gestão de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto, a Califórnia paulista, demonstra com clareza a afirmação.
Na segunda-feira, quando o mercado voltou a funcionar e muitos esperavam reações negativas, o índice Bovespa fechou em alta e o dólar despencou ladeira abaixo. Os indicadores econômicos estão cada vez mais firmes e o setor não sofreu os abalos comuns a tais momentos de instabilidade.
A política econômica do governo Lula, rigorosamente estribada no cumprimento de contratos, cuja linha essencial é garantir aos credores e investidores internacionais que nenhum ato demagógico ou populista será perpetrado, colhe aplausos em todos os quadrantes do mundo industrializado.
Por isso, o ministro tornou-se figura reverenciada no círculo de governo, em última análise, único personagem da Esplanada a ostentar a ?blindagem? sobre a qual tanto se falou nas últimas semanas. Guarnecido por Henrique Meirelles, credenciado pela banca internacional a exercer a função de presidente do Banco Central e bafejado por Delfim Netto, Palocci se transformou em avatar do culto ao contingenciamento de gastos públicos, mesmo que a prática produza sério comprometimento na qualidade de vida da população pobre.
Para o presidente Lula, no entanto, Palocci é contumaz autor de gols de placa.